Afleveringen
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“O cemitério” (1924) é um conto com toques realistas e, porque não dizer, naturalistas, de Lima Barreto (1881-1922). Narra uma visita ao cemitério e a observação dos túmulos, gerando sentimentos, como se a matéria fria fosse capaz disso. Nas lápides, o narrador impressiona-se com o esforço manifestado pela implantação de esculturas e investimentos em pirâmides, para tentar manter a diferença social, deixar saber quais são os túmulos pobres e ricos, mas todos são simplesmente, mortos. É um “mudo laboratório de decomposição”. Até que ele enxerga a lápide de uma moça, “bela mulher!” exclama, como se a contemplasse na Rua do Ouvidor. É a partir desse ponto que vem a descrição naturalista, seguido da composição completa que o narrador faz, a partir do par de olhos que contempla no túmulo. No conto, ele segue a "meditar como um cientista-profético-hebraico”, por isso, emerge na história variadas impressionâncias. O cemitério, aliás, é um ambiente sobre o qual Lima versou bastante. Uma de suas obras mais conhecidas é Cemitério dos Vivos, um romance inacabado escrito entre 1919 e 1920. A obra foi publicada postumamente em 1957. Exatamente hoje, 1º de novembro, completa-se 102 anos da morte do autor. Boa leitura!
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“Poema Negro” é do escritor paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914) com versos que remetem à consciência sobre a finitude da vida e sobre a passagem do tempo. Promove um cenário com “sombria análise das cousas”. Faz parte de sua coleção no solitário livro Eu e outras poesias (1912) e, portanto, é um bom exemplar para ser contemplado e analisado no mês do Halloween. O clima da construção poética é a noite, como já evoca o título, mas do breu, Augusto dos Anjos vai elucidando algumas simbologias que remetem ao seu estado de realidade: “Para iludir minha desgraça, estudo./ Intimamente sei que não me iludo”; bem como ao sonho, sequência marcada a partir do verso: “surpreendo-me sozinho numa cova” e que vai culminar numa viagem para Roma em Sexta-feira Santa e num encontro com Jesus, esquelético. Vem uma estrofe com insistentes repetições, que talvez remetam ao ciclo inerente ao ser humano: caindo (2x) e declínio (3x). Sobre os temas de suas poesias, a morte e toda a energia que esse acontecimento de finitude engloba, é um dos mais presentes. Daí a alcunha “O Poeta da Morte”: Boa leitura!
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Zijn er afleveringen die ontbreken?
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“O ladrão de cadáveres” (1884) é conto do escritor escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894) no qual se tem forte a alegoria do bem e do mal em guerra um contra o outro. É a história do velho bêbado escocês, Fettes, homem de inegável instrução e também de algumas posses, já que vivia na ociosidade. Ao ouvir o nome do médico que viera de Londres, Dr. Wolfe Macfarlane, ele retorna a uma memória da juventude, com quem estudou Medicina em Edimburgo, na posição de monitor da turma. À ocasião, o filtro da ética de Fettes acende-se quando recebe o corpo de uma moça que ele quis namorar no dia anterior e que gozava de perfeita saúde. A isso, Macfarlane avança sobre Fettes com um discurso pesado de profecia, materializada na metáfora de que: de um lado, estão os leões, que têm coragem e sabedoria; e de outro, os cordeiros, que são desrespeitados e assassinados, indo parar na mesa de dissecação. Ao passo que a narrativa revela como ambos foram cúmplices de inúmeros casos ilícitos para obter corpos para os estudos, culminando no clássico caso da “consciência pesada”, emerge a prosa rica e sutil de Stevenson, que dá à história profundo sentido de beleza literária e tensão. A grande conclusão é que “os maus não têm descanso”. Boa leitura!
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“A dança dos ossos” (1871) é um conto em quatro capítulos de Bernardo Guimarães (1825-1884). O escritor brasileiro faz uma narrativa folclórica e bem-humorada, de aventuras contadas ou ouvidas pelo narrador viajante, que achega-se defronte ao fogo com os caboclos, às margens do Rio Parnaíba, entre Minas Gerais e Goiás. O principal interlocutor do viajante é o barqueiro Cirino, a quem cabe narrar a história da Dança dos Ossos. Ele é comparado à Caronte, barqueiro do submundo da Mitologia Grega.
Cirino refere-se à dança dos ossos que ocorre em toda sexta-feira, noite em que não se pode entrar na floresta sem se defrontar com o espetáculo sinistro e horripilante. O causo contado por ele é acompanhado com curiosidade pelo narrador, a que Cirino chama de “Meu Amo” ou de “Vm.". Um dos ensejos é o querer saber "quantos ossos há no corpo humano?" já que os ossos do defunto estão espalhados pela floresta. A resposta, damos nós: são 206 os chamados ossos constantes, em um adulto. O que traz o inverossímil à história é também o fato de que a conversa do barqueiro é regada a “tragos”, o que significa que não estava sóbrio nem quando deparou-se com a caveira, nem no momento em que conta a história. “A dança dos ossos” consta no livro “Lendas e Romances”, publicado em 1871, o menos conhecido de Bernardo Guimarães, no qual faz construções sintáticas e expressões bem brasileiras. Boa leitura!
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“O fabricante de caixões” (1830) é um dos cinco Contos de Belkin, escritor fictício criado pelo gênio russo Alexander Pushkin (1799-1837), no qual vamos conhecer Adrian Prokhoroff, cuja profissão é mesmo essa. Na Rússia do século XIX, além do caixão ele dispunha de outros estoques mortuários aos seus clientes, como chapéus de luto, mantos e tochas. Como qualquer negócio, ele não poderia deixar de pensar na sustentação do seu, o estranho é o ter que desejar que convalescentes, como a esposa do comerciante, uma vez falecendo, ainda fosse ele a ser procurado para encomendar tudo e não o concorrente. Afinal, “os mortos não podem viver sem caixão”. A história começa com o fabricante de caixões saindo de sua zona de conforto, com a mudança de residência do casebre para a casa maior, com as filhas e a criada. Logo, conhece os vizinhos e é convidado para uma festa. Depois disso e muita bebedeira, bem, quem nunca foi dormir contrariado? O texto de Pushkin cheira temperança no irreverente, fazendo seu narrador conversar diretamente com o leitor. Publicados em 1830, como parte de uma coletânea desse narrador fictício, teriam sido encontrados e complicados em livro por um suposto editor. O feito demonstra a maestria de um dos mais importantes e precursores da literatura russa. Boa leitura!
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“A dama branca” é um conto da escritora Grazia Deledda (1871-1936), primeira italiana a ser agraciada com o Nobel de Literatura, em 1926. É um dos seus Contos Sardos, local de nascimento de Grazia, que se dedicou a narrar a beleza, o costume, a cultura e o sobrenatural de sua ilha. O nome “A dama branca” remete, de certa forma, à ideia de uma aparição. E esta manifesta-se em sonho, ao vaqueiro Bellia, contando que haveria uma fortuna escondida em determinado local da floresta e que só caberia a ele, em determinado dia, resgatar. Uma série de adversidades se desenrola na história contada pelo velho Salvatore, para quem trabalham os vaqueiros, sendo a narrativa tomada também pelo pároco nonagenário, de posse do testamento que explicaria todo o mistério. É uma trama repleta de camadas com direito a histórias de amor e de crimes e que remonta à história de tesouros escondidos guardados pelo diabo. Boa leitura!
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“A paixão da leitura” é um ensaio filosófico e bastante didático de Virginia Woolf (1882-1941) sobre a nossa relação com os livros. Logo ao princípio, ela infere o surgimento das bibliotecas e afirma que ler é uma arte muito complexa. Nossa obrigação como leitores são muitas e variadas. Por um lado, devemos nos colocar no banco dos réus e ler sem julgar quem escreveu ou o escrito, mas sim, ler como se estivéssemos escrevendo. Num segundo momento, devemos saber criticar como um juiz, e julgar não apenas os clássicos, mas também os escritores vivos, pois só assim estaremos ajudando a trazer livros bons para o mundo. O ensaio está no livro O Sol e o Peixe, encerrando o capítulo I.A vida e a arte. A relação de Virginia com os livros tem imensas dimensões. Ela escrevia, editava livros à mão, traduzia, debatia e, acima de tudo, ensaiava "Como se deve ler um livro?", em O valor do riso e outros ensaios. Na vertente produção de livros, durante o período entreguerras (1918-1939), o casal Virginia e Leonard Woolf passava o tempo realizando impressão de livros à mão para, alguns anos depois, fundar sua própria editora, a Hogarth Press, que funcionava na sala de estar de casa. Dá para ter uma noção do clima literário a que estavam envolvidos. Boa leitura!
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“Metafísica das Rosas” é um conto com ares de parábola, de Machado de Assis (1839-1908). Começa com “No princípio, era o Jardineiro”, o que imediatamente nos remete às escrituras da Bíblia Cristã. No conto, Machado explora passagens bíblicas que tratam da criação do mundo: [Gênesis 1:1-3] e [João 1:1-5]. O Bruxo recorre novamente à criação do homem e da mulher, criando ele a partir de um tronco de palmeira e um sopro; e ela, de um tronco de laranjeira e um sopro. O homem e a mulher surge nesse jardim de delícias, o Jardim do Éden, justo quando as rosas (que são os pensamentos do jardineiro) estavam insatisfeitas; tiveram uma mudança de comportamento para o triste, porque desejavam a “contemplação de outros olhos”. Esse é um dos “contos abandonados” do Bruxo do Cosme Velho. O que significa que, após sair na Gazeta de Notícias em 1º de dezembro de 1883, ele não o incluiu nas coletâneas posteriores: “Histórias sem Data” (1884) e “Relíquias de Casa Velha” (1906). O conto voltou a sair após a sua morte, em 1908. Mas ao que tudo indica, alguns desses textos abandonados, possivelmente o foram, pelo fato de que Machado estava empregando ainda mais estudos no assunto. Aqui, por exemplo, há a fixação em Metafísica. Neste texto há muitas camadas, diversas pétalas a se conhecer. Boa leitura!
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“Patrióticas” são um conjunto de poesias na Parte Terceira de Dias e Noites (1881), livro do escritor sergipano Tobias Barreto, que recebeu o juízo crítico de Silvio Romero. Neste episódio: "À vista do Recife”, “Pernambuco”, “Os leões do norte”, “Sete de setembro”, “Em nome duma pernambucana”, “Versos escritos num dia nacional”, “Capitulação de Montevidéu”, “A volta dos voluntários”, “Decadência”, “A Polônia”, “A escravidão”, e “A viúva e os filhos do Capitão Pedro Afonso”. Trata-se de uma sequência de cânticos marciais que Tobias Barreto compôs em sua segunda fase poética, a pernambucana, que foi de 1862 a 1881, data da publicação do livro. Era um período guerreiro para o país e a poesia acostumou-se ao retintim das armas. O Recife, onde fora estudar Direito, era a passagem de todos os batalhões do norte e o ardor marcial era geral. À época do segundo império, os poetas compunham parte da aristocracia pensante e Tobias Barreto foi um filósofo, escritor e jurista brasileiro, apesar de sentir-se por vezes discriminado, por ser mestiço. Com Silvio Romero, fundou a Escola do Recife, corrente do pensamento social, filosófico, literária e jurídica que agitou a Faculdade de Direito do Recife nas últimas décadas do século XIX. Hoje a Faculdade é consagrada como "A Casa de Tobias”. Boa leitura!
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“Resistência em musgo” é a história de abertura de Verde Amadurecido, de Daiana Pasquim (1981), livro de contos publicado pela Editora Litteralux, em agosto de 2024. Apresenta um homem de 76 anos, viúvo e que havia desistido de viver. Ele jamais abria as janelas de seu casarão, com três enormes vidraças na frente e frequentemente, fechava as cortinas. Era um saudosista que havia se ramificado em sua própria vida, quando esteve diante da morte, ao se despedir de sua falecida esposa, Adele. A vizinhança também, já o dava como morto. Mas uma única vizinha, uma vez por ano, contratava pessoalmente um serviço de jardinagem para “desenterrar" o vizinho viúvo da grama agigantada, da necessidade de poda das árvores, dos peçonhentos que estavam a invadir. Naquele ano, contudo, a transformação no jardim não aconteceria com naturalidade. Verde Amadurecido recebeu a cuidadosa leitura da premiada escritora Maria Valéria Rezende, que cunhou as seguintes palavras: “(…) Daiana Pasquim explora, nestes contos que transitam pela permeável e vaga fronteira entre concretude e imaginação, com bela sucessão de imagens, riquíssimo vocabulário, inventivas metáforas que nos ajudam a expandir nossa própria imaginação”. Boa leitura!
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"A loucura provinda do mar” é o capítulo 3 de “O chamado de Cthulhu” [(1926)1928], de H.P. Lovecraft (1890-1937) quando o narrador vai mais a fundo na investigação, a partir de encontrar um jornal australiano que cita o acidente com o vapor neozelandês, em 1925. Neste capítulo, o herdeiro do antropólogo prof. Angell faz uma extensa acareação de datas, levanta muitos questionamentos e vai concatenando os fatos, a partir do texto escrito por Gustav Johansen, segundo imediato da Escuna Emma, que após deparar-se com uma monstruosa Acrópole, sofre um envelhecimento abrupto. Neste trecho da narrativa há uma correlação com a Odisseia, de Homero, conectada a partir da frase: “como Polifemo amaldiçoando a nau de Odisseu”, relacionando-se ao Ciclope de um olho só que Ulisses enfrenta e mutila. O que os marinheiros de O Chamado de Cthulhu vivem relaciona-se ao poema épico justamente quando aportam num "litoral que é uma mistura de lama, lodo e ciclópica alvenaria limosa que não pode ser nada menos que a essência tangível do supremo terror da terra - a fantasmagórica cidade-pesadelo de R’lyeh". É arrepiante. Boa leitura!
O Chamado de Cthulhu PARTE 1
O Chamado de Cthulhu PARTE 2
O Chamado de Cthulhu PARTE 3
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"A narrativa do Inspetor Legrasse" é o capítulo 2 do clássico de terror “O chamado de Cthulhu” [(1926)1928], de H.P. Lovecraft (1890-1937). Este capítulo dá brecha para um amplo debate de racismo, além de perniciosas aventuras das artes das trevas jamais descritas desta forma na literatura mundial. Em primeiro lugar, é preciso dizer que o próprio Lovecraft era mestiço, palavra e pessoas que ele utiliza várias vezes nessa parte da obra, para ancorar a adoração à malígna criatura - cuja descrição minuciosa parte de uma atuação policial do inspetor Legrasse. Cultos secretos são relacionados a negros alados na floresta assombrada, a um fetichismo negro, a negros espíritos e ao Necronomicon, escrito por Abdul Alhazred (que por sua vez, é um dos personagens mais famosos do próprio Lovecraft). O que torna esse miolo da narrativa muito assustador é a impossibilidade de fuga, já que as forças do mal se comunicam por transmissão de pensamento. Os ancestrais formaram o culto em torno de pequenos ídolos trazidos de sombrios astros de remotas eras. O que se espera é o realinhamento dos astros, para liberar essas forças e o Cthulhu reassumir a Terra. Boa leitura!
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“O chamado de Cthulhu” [(1926)1928], de H.P. Lovecraft (1890-1937) introduz uma nova forma de tratar o terror, no mundo. Esse longo conto é o grande responsável, por isso e, a partir de hoje, abre-se aqui no LdO o portal para a Mitologia do Universo de Horror Lovecraftiano, que seguirá nas duas próximas semanas. Começamos com a parte "I. O horror desenhado em argila”. Este é o momento em que Lovecraft “engatilha" a angústia provocada pelo desconhecido que tenta ser explicado por uma palavra inaudita: Cthulhu, uma escultura sinistra recém-saída da mente de um artista que vinha sendo perturbado em sonhos, por tentáculos e gosmas esverdeadas: Henry Anthony Wilcox. O conto é narrado por uma espécie de investigador, que é o sobrinho do cientista que catalogou todas as estranhezas narradas pelo artista. O tio-avô George Gammel Angell, professor emérito de Línguas Semíticas da Brown University, em Providence, Rhode Island, era mundialmente aclamado por ser especialista em inscrições antigas. Quando seu tio-avô morre, aos 92 anos, o jovem narrador, que é responsável pelo espólio do pesquisador, começa a desvelar absurdos que o perturbam e instigam, ao ponto de ele mesmo declarar que nunca deverá revelar o elo desta cadeia mal-apessoada. Boa leitura!
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“O alquimista” é um conto de H.P. Lovecraft (1890-1937) narrado por Antoine, “o último desses infelizes e amaldiçoados condes de C…” aos seus 90 anos de vida, retornando a uma memória de juventude que envolveu o embate com uma maldição que assolava seus antepassados há seis séculos. Só mesmo uma mágica poderia ir contra essa maldição. Por isso, Antoine tornou-se um pesquisador intrigado, um explorador do castelo no qual viveram - e tantos morreram de forma sinistra e insólita - por esses 600 anos. Ele sobreviveu decadente, na miséria, e escolhe termos bem horripilantes para narrar a sua história, mas somente quando detêm-se diante de uma ala completamente deserta do velho castelo, vê-se diante de um homem ou espírito de cabelos longos e barbas flutuantes de cor preta intensa e terrível, de mãos longas e ressequidas, curvadas como garras, olhos como cavernas gêmeas de negrume abissal, que precisamente possuía um tipo de pedra filosofal, ou elixir da longa vida, é que Antoine vai se deparar com a chave da maldição. A história é eletrizante, em toda a sua solidão. Boa leitura!
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“Flanando por Londres” (1927) é um ensaio de Virginia Woolf (1882-1941) que, a exemplo de Mrs. Dalloway, onde o pretexto da personagem é sair comprar as flores e - desse portal, viver um fluxo de consciência um dia inteiro ao ponto de virar um emblemático romance da autora inglesa - aqui, a “desculpa" é sair comprar um lápis. O ensaio-conto está no livro O Sol e o Peixe, no capítulo do meio II. A Rua e a Casa. Esse livro é traduzido no Brasil por Tomaz Tadeu e os ensaios são inteligentemente divididos em três blocos, sendo ainda o I.A vida e a arte e o III.O Olho e a mente – cada bloco comporta três textos. Flanar é caminhar sem destino certo. Verbo inexistente em língua inglesa. O título original de Virginia é Street Haunting: a London Adventure”, publicado na Yale Review em outubro de 1927. Aportuguesada por ser muito bem-usada por João do Rio, que flanava pelo Rio de Janeiro para descrever A Alma Encantadora das Ruas, o termo ficou famoso na França do século XIX, com Baudelaire. Ela vaticina, a melhor época para flanar por Londres é o inverno e o melhor horário, entre 16h e 18h, para curtir o entardecer e a chegada da noite. É um ensaio em primeira do plural: “vamos lá, comprar um lápis”. O texto pode ser um passeio meticuloso por Londres, mas é também uma viagem para “o fogo da lareira da mente”, como ela mesma denominou. Boa leitura!
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“As três irmãs" é um dos 30 contos de Julia Lopes de almeida (1862-1934) em Ânsia Eterna (Garnier, 1903). A narrativa aborda o envelhecimento com nítida sabedoria, ao promover um reencontro entre três irmãs que não se viam há mais de trinta anos e elenca tudo o que precisa acontecer para seus destinos convergirem novamente. Fica evidente que cada pessoa traça a sua própria história, contudo Julia, nas camadas mais internas da narrativa, reforça o papel da mulher do século XIX, que era o de ser o anjo do lar para seu marido e filhos, vivendo as “sagradas agonias da maternidade”, ao mesmo tempo em que denuncia o patriarcalismo, já que o que diferenciou tanto as irmãs fora o fato de que “cada qual fora educada por um marido”. O texto ainda faz pensar se a vida passa rápido demais e lança a suas ideias ecológicas: “o vestido havia tanto tempo guardado, não podia cheirar a sol, nem a primavera”. Cada uma das irmãs personifica um perfil: a enraizada e saudosista; a viajante que gosta de luxo; e a sociável que valoriza as relações com seus filhos e netos. Com palavras simples, a autora promove a comoção. Boa leitura!
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“Versos a Corina I”, é um dos poemas de “Crisálidas”, ou “Chrysalidas” (1864), de Machado de Assis (1839-1908). Da primeira fase do Bruxo do Cosme Velho, é totalmente Romântico. O poema de Machado não só tem como musa uma mesma mulher que inspirou o romantismo francês, através de Madame de Staël, como também trata do amor impossível, a exemplo de Corinne ou l’Italie (1807). Machado fez seis capítulos e evoca uma condição: ou a mulher super amada ou a solidão. “Chrysalidas” foi o primeiro livro publicado por ele e contém textos que escreveu dos 19 aos 25 anos. No primeiro capítulo de “Versos a Corina" é apresentada a mulher sonhada pelo “eu lírico”e a pergunta: onde está ela? Em II, o poeta mostra-se imperfeito, fatigado, desiludido e é um momento em que Machado emprega com maestria seu rico vocabulário. Em III, o apaixonado tenta alcançar a sua amada e lhe jura amor eterno, mas ela ainda não é dele. Em IV, emprega diversos argumentos como forma de convencer a sua amada: as brisas, a luz, as águas, as selvas, o poeta e emprega bastante mitologia; em V, considera-se com sorte esquiva, entram muitas dúvidas reforçadas pela decisão Estilística do autor, que é a de fazer repetições de palavras nos versos, como se essa espécie de “confusão" fosse a marca de diversas estrofes. E por fim, VI conclui que enquanto ela é pura luz e alegria, ele é tristeza e desalento. Em Crisálidas, Machado compôs também “Versos a Corina II”, que será motivo de um novo episódio do Leitura de Ouvido. Boa leitura!
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"A Uma Taça Feita de Um Crânio Humano” é um dos poemas de Lord Byron (1788-1824) traduzido pelo escritor brasileiro Castro Alves (1874-1871) e publicado em seu único livro de poesias Espumas Flutuantes (1870). Esse poema personifica as especulações sobre a sua vida pessoal, ultrapassando as fronteiras da Literatura, uma vez que no século XIX era hábito de alguns romancistas utilizarem crânio humano como taça de vinho, inspirados nos hábitos de Byron. Produzimos também "As trevas", traduzido de Byron por Castro Alves, o que mais uma vez comprova que a literatura pode abrir passagens secretas inimaginadas, já que por estilo, a produção do jovem poeta abolicionista brasileiro compõe a 3ª geração do Romantismo Brasileiro, denominada Hugoniana ou Condoreira. Enquanto os byronianos são precedentes, ou denominados Ultrarromânticos, pois da 2ª geração romântica. Nesse episódio teve o pedido em caixinha de interação, com o poema: “Adeus”, com seus famosos versos “Adeus! e para sempre embora, que seja para nunca mais”. Como brinde, trazemos ainda "Byron", de autoria do próprio Castro Alves. Portanto, quatro poemas para você contemplar. Os escritores brasileiros seguiam os rastros de Byron, intrinsecamente, quando o assunto é Romantismo. Já explanamos vários exemplos no podcast. Hoje é dia de você interagir emitindo as suas Notas de Rodapé. Boa leitura!
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“O sinaleiro” é um conto de fantasmas, de suspense e de terror, de Charles Dickens (1812-1870). Diferente da tradição do autor, este não se passa no Natal. Narra o encontro entre dois homens, sendo um deles o que trabalhava como sinaleiro e, o outro, como visitante. O insólito é o fio condutor nevrótico da história, pautado num vocativo: “- ALOOÔ! AÍ EMBAIXO!” que abre e fecha as nossas impressões da narrativa. Dito assim mesmo, em forma de grito, o que vai balizar as impressões e as reações dos personagens, construindo um terror gótico na cena. Aliás, essa é uma narrativa de suspense, repleta de cenas mal resolvidas, mas nesse episódio, convido você a desvendar esses mistérios comigo. Uma das anotações está nos sinais, observados pelo visitante do sinaleiro, de virar o rosto para perscrutar o sino, silencioso; de abrir a porta do abrigo para olhar se tem alguém lá fora; e na aparição da luz vermelha. O nosso protagonista não tem medo do fantasma, mas sim, da angústia de não saber o que a aparição significa, de modo que possa agir para evitar tragédias.
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“A dama de espadas” (1834) é um conto muito bem elaborado do escritor russo Alexander Pushkin (1799-1837). Dividido em seis capítulos, é uma narrativa que perpassa vários ambientes e emoções da convivência social, centrado no hábito do jogo, por dinheiro. O conto russo aborda o despertar da ambição, a ingenuidade do amor, a injustiça e a loucura. Há, inclusive, toques de insólito, regado a todas as belezas da narrativa pushkiniana: “e o veículo começou a rodar suavemente sobre a neve”. Além da bela ambientação, dá detalhes de cenário e figurino. Enfim, é uma história inebriante! O conto foi escrito em 1833 e publicado pela primeira vez na revista literária Biblioteka dlya chteniya, em 1834. Até hoje é reconhecido como um dos melhores contos já publicados. Pushkin explora a natureza da obsessão e a avareza humana de maneira magistral. “A dama de espadas” foi transformado na ópera “The Queen of Spades” do grande compositor clássico Tchaikovsky. Boa leitura!
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