Afleveringen
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Diretor transportou para a ficção a experiência real de luto vivida por ele e sua família após a morte de sua irmã No filme “A Metade de Nós”, Flavio Botelho transportou para a ficção a experiência real de luto vivida por ele e sua família após a morte de sua irmã, em 2007, aos 36 anos. Dirigido por Flávio, o longa conta a história de Francisca e Carlos, que perdem o único filho por suicídio. Enquanto a mãe, assombrada pela culpa, se dedica a desvendar os porquês, o pai se aliena na vida do filho morto e se muda para a casa dele. Transportar para o cinema uma experiência pessoal tão dolorosa foi uma jornada difícil, mas necessária. Ao abordar o suicídio de forma sensível e delicada, Flávio encara a importância de falar abertamente sobre o luto, ainda tão cercado de tabus. Para ele, foi também uma forma de cura e reconexão com a memória da irmã. “Eu consegui, eu acho, ficar perto da minha irmã, saber e entender mais esse processo dela, mergulhar na nossa história. Ela era companheirona, super amorosa, carinhosa. Então quando eu falo dela, sinto que ela está perto”, contou em entrevista ao Trip FM.No programa desta semana, o cineasta compartilhou com Paulo Lima os bastidores e os sentimentos que guiaram a criação de seu novo filme. O episódio, disponível no play, é um convite à reflexão sobre como honrar a memória daqueles que se foram e transformar a dor em aprendizado e acolhimento.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/11/672e57682d45e/flavio-botelho-cineasta-diretor-roteirista-filme-longa-a-metade-de-nos-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=A Metade de Nós, longa metragem do cineasta, diretor e roteirista Flávio Botelho; ALT_TEXT=A Metade de Nós, longa metragem do cineasta, diretor e roteirista Flávio Botelho]
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Atriz se consolida como um dos principais talentos do audiovisual em ano repleto de estreias importantes
“Não acredito em ‘auge’, porque é como se você subisse e depois descesse. É muito relativo, a gente se realiza de formas diferentes. Me sinto no auge agora porque consigo ter qualidade de vida, conciliar meu trabalho com a família e os amigos. Mas sei que o auge também vai vir daqui pra frente”, diz Alice Wegmann.
Dois dias antes de completar 29 anos, a atriz falou ao Trip FM sobre o ano em que consolida seu espaço nas telas brasileiras. Em cartaz nos cinemas com o filme “A Vilã das 9” e na expectativa da estreia da série “Senna” (Netflix) no fim do mês, Alice se mostra uma figura essencial da nova geração de atores.
“A gente não pode pautar talentos e profissões por seguidores de redes sociais. Isso é muito perigoso. O que está acontecendo no mercado do audiovisual é que esses números estão sendo exigidos dos atores na hora da escalação”, afirma. “Isso significa deixar de dar oportunidade para artistas brilhantes que não têm tantos seguidores, e que talvez nunca vão ter”.
A atriz bateu um papo com Paulo Lima sobre corpo, fama, mudanças, e lembra a época em que era atleta da ginástica artística. O papo completo está disponível no play aqui em cima e no Spotify.
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Zijn er afleveringen die ontbreken?
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A saga de Guilherme Gomes, 22 anos, da vida humilde de faxineiro em Manaus para os 10 milhões de seguidores nas redes sociais Vídeos de limpeza não são exatamente uma novidade na internet – e os influenciadores que surfam essa onda têm um rótulo só para eles: cleanfluencers. O manauara Guilherme Gomes, do @diariasdogui, é um deles, mas é também muito mais do que isso. “As faxinas foram um propósito, um começo para transformar a vida de outras pessoas”, diz.Ele chegou a ter uma empresa com vinte funcionários, mas largou o empreendimento e passou a usar sua força na internet para limpar, de graça, a casa de acumuladores compulsivos. As empreitadas, que chegam a ter mais de dez voluntários, devolvem a dignidade a pessoas que vivem em meio ao lixo e pilhas de objetos que há muito perderam o sentido.No Trip FM desta sexta-feira, o jovem de 22 anos bate um papo com Paulo Lima sobre a sua trajetória, o preconceito contra a profissão, dinheiro, saúde mental e muito mais. O programa fica disponível no Spotify e aqui no site da Trip.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/10/671bef436ed30/guilherme-gomes-faxineiro-limpeza-acumuladores-manaus-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=Guilherme Gomes; ALT_TEXT=Guilherme Gomes]Como você fez essa transição do empreendedor da faxina para começar a atender os acumuladores?A minha transição de empreendedor para influenciador não foi eu que fiz, foi a internet. Foi quando eu comecei a tirar das pessoas essa visão de que faxina é uma profissão ruim, sendo um menino, jovem, fazendo limpeza. A faxina mudou a minha vida financeiramente, a força da internet mudou a minha vida da água para o vinho. Atender os acumuladores foi uma forma de agradecer tudo o que a faxina fez por mim. Hoje, eu não cobro um centavo para fazer esse serviço. É uma forma de gratidão por tudo o que eu já conquistei.E o que você mostra com esse trabalho?Era comum que se brincasse que a depressão era falta do que fazer, falta de Deus, seja lá o que for. Eu mostro pessoas que vivem em situação de acumulação, no meio do lixo, em situações que são difíceis de acreditar. Mas eu mostro também que elas são pessoas com uma história que precisa ser ouvida, de como foi que elas chegaram ali. É a vida real.E isso geralmente traz um resultado positivo?Limpar a casa de um acumulador, reformar, faz com que a pessoa volte ao seu passado, de como ela era antes. A nossa casa é um reflexo de nós mesmos: um lar bagunçado mostra, muitas vezes, uma vida bagunçada. O que eu faço é tirar a pessoa daquela vida e é uma responsabilidade muito grande. No começo eu queria fazer tudo e ajudar todo mundo e isso me custou um pouco da minha saúde, com muita ansiedade. Aquele comentário ruim no meio de mil coisas boas me destruía.Você sente um preconceito da profissão de faxineiro?O preconceito com o faxineiro tem diminuído. A internet trouxe essa oportunidade, mas eu sei que ali é também um mundo sem lei, com muito conteúdo que não agrega à vida de ninguém, pessoas ficando ricas, com muito dinheiro, enquanto os fãs ficam ali só assistindo elas esbanjando. Se não fosse a internet minha vida não teria mudado. Abri mão de muita coisa, sofri, cheguei a passar tempo doente, com milhões de pessoas colocando o meu caráter em xeque, mas a internet mudou a minha vida, é só saber usar.
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Para homenagear o legado do publicitário, o Trip FM resgata seus relatos sobre sucessos, fracassos e os detalhes do sequestro em 2001 Um dos grandes nomes da cultura pop brasileira, o publicitário Washington Olivetto faleceu no último domingo, aos 73 anos, deixando dezenas de campanhas publicitárias que não só fizeram história, mas também conquistaram o imaginário popular – quem não lembra do Garoto Bombril ou do cachorro da Cofap? Para homenagear esse legado, o Trip FM reúne duas conversas gravadas com Olivetto, em 2002 e 2008. Nas entrevistas, ele conta sobre a criação da icônica campanha "Meu Primeiro Sutiã", para a Valisere, e compartilha reflexões sobre envelhecimento, fracasso, mercado publicitário e o sequestro que o manteve em cativeiro por mais de cinquenta dias em 2001 — um episódio sobre o qual ele raramente falava, mas que topou relatar à Trip. Em sua primeira participação no programa, estava ao seu lado no estúdio a estudante de medicina Aline Dota, que descobriu o paradeiro de Olivetto usando um estetoscópio e revelou sua localização à polícia.Você pode ouvir essa e outras histórias no Spotify ou no play aqui na página![IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/10/6712bff6519be/washington-olivetto-publicitario-w-brasil-propaganda-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Jairo Goldfus (@jairogoldflusestudio); LEGEND=Washington Olivetto, publicitário que criou a propaganda do primeiro sutiã, da Valisère, vencedora de vários prêmios internacionais; ALT_TEXT=Washington Olivetto]
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Descubra quem é Bruno Santos, o ídolo de Medina, ítalo e Chumbinho especialista em desafiar por dentro as ondas mais perigosas do planeta Muito antes de Gabriel Medina e Tatiana Weston-Webb brilharem ao surfar em Teahupoo, no Taiti, durante as Olimpíadas, outro brasileiro já havia feito história nessa onda, uma das mais perigosas e icônicas do mundo. Em 2008, com quinze pontos recém-aplicados na perna, Bruno Santos, então com 25 anos, derrotou os melhores atletas do planeta e conquistou uma das vitórias mais inesperadas da história do surf. Hoje, aos 41 anos e consagrado como um dos maiores surfistas de tubo do mundo, Bruninho conversou com Paulo Lima no Trip FM sobre sua carreira, estilo de vida, morar na Indonésia, paternidade, pesca submarina, e muito mais.O Trip FM fica disponível no Spotify e no site da Trip.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/10/67097d45ecba8/bruno-santos-surf-big-waves-trip-mh.jpg; CREDITS=@bali_shots / reprodução / instagram; LEGEND=Bruno Santos; ALT_TEXT=]Trip. Você acha que os surfistas hoje estão esquecendo de um lado menos competitivo do surf?O surf hoje é muito grande, tem quem leve para o lado mais competitivo, outros que vivem como uma religião, tem também os que trabalham para poder surfar no tempo livre. Eu sou da parte mais romântica. Depois de ter surfado sei lá quantas horas de tubo na minha vida, ainda continuo viciado, apaixonado por essa busca, essas missões: barco, moto, voa, tudo procurando essa paixão.O que você aprendeu sobre surfar tubo depois de todos esses anos e quanto o fator perigo influencia?O tubo é um mix de técnica, claro, conhecimento, timming. Mais da metade do trabalho é o posicionamento antes. Os melhores tubos são em ondas perigosas, de bancada rasa, então o risco está sempre presente. O fator perigo está presente. É o que o torna especial. Três segundos dentro dele parecem uma eternidade.Você já imagina o que vai fazer quando o corpo não permitir mais pegar essas ondas?Brinco que não gosto de surfar, gosta de pegar tubo. O que me move é a adrenalina, é o coração bater forte. Fico com medo de que a partir do momento em que o meu corpo não estiver bem o suficiente de pegar essas ondas maiores, se eu vou ter o tesão de surfar ou se não vou partir pra outra coisa.
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Dona de um extenso currículo no cinema e na televisão, atriz colhe os frutos de seu primeiro filme como diretora “Comecei a perceber que tenho uma representatividade como amazônida, mas sou de uma brasilidade que alcança esse país inteiro. São 42 longas-metragens plurais. Agora, quando se fala em TV, só a partir de 2022 o olhar do protagonismo começou a ser ampliado dessa beleza importada que a gente vê por aí”, diz Dira Paes. Dona de um extenso currículo no cinema e na televisão, a convidada do Trip FM desta sexta-feira vive a emoção de colher os frutos de seu primeiro filme como diretora, que também é roteirizado e protagonizado por ela.Em cartaz nos cinemas brasileiros, “Pasárgada” acompanha o dilema de Irene, uma solitária ornitóloga, profissional dedicada ao estudo de aves, que, durante uma viagem de pesquisa numa floresta remota, passa a questionar sua ligação com o tráfico internacional de animais.“Eu queria abordar o absurdo do Brasil ser esse grande fornecedor de animais silvestres e pássaros para o tráfico internacional. É um fetiche até hoje. A gente convive com gaiolas e não se admira”, afirma a atriz. “Essa personagem me trouxe outro movimento, algo que não sou muito convidada a fazer. Eu queria essa vilania.”Dira também está no elenco de “Manas”, longa-metragem premiado no Festival de Veneza que fará sua estreia nacional no Festival do Rio neste final de semana. Gravado na região amazônica, o filme acompanha uma jovem em meio ao cenário de violência na Ilha do Marajó, no Pará.Na conversa com Paulo Lima, Dira também falou sobre seu ativismo, que precede a carreira artística. “Como vamos dar conta das demandas do Brasil se ficarmos passivos às demandas governamentais? Como vamos transformar alguma coisa se não somos ativistas capazes de criar demandas? O que eu vejo hoje é que a Amazônia precisa ser ouvida através dos amazônidas: artistas, cientistas, todas as excelências do mundo. Não dá pras pessoas irem lá pra falar o que a gente precisa fazer.”O Trip FM fica disponível no Spotify e aqui no site da Trip.Trip. Porque decidiu partir agora para a direção?Eu queria estar presente em todas as etapas da feitura de um filme. Encarei essa minha primeira aventura cinematográfica como uma graduação, quando é preciso estar ao par de toda a artesania do processo. Eu estou muito realizada: colocar um filme na praça é um grande desafio. É um trabalho de uma apropriação do seu desejo ao ponto de você contaminar todos que estão à sua volta.Como foi desenvolver uma personagem para você mesma interpretar?Eu estava pensando um lado meu mais lunar, justo eu que sou uma pessoa extrovertida, fui buscando meus avessos. Essa personagem me trouxe outro movimento, algo que não sou muito convidada pra fazer. Eu queria essa vilania.Com o tempo você a sua beleza virou um ativo muito forte, mas imagino que no começo, quando o padrão de beleza era muito mais europeu, você tenha tido maior dificuldade.No começo da carreira eu achei que esse meu lado Amazônia era algo que me deixaria em um nicho. Hoje me orgulho de ser um farol para muita gente. Nós não éramos um padrão de beleza, tínhamos uma coisa exótica. Mas eu sempre tive minha autoestima muito bem resolvida, e sempre me achei muito especial. Comecei a perceber que tenho uma representatividade como amazônida, mas trabalhei no Brasil inteiro, eu sou de uma brasilidade que alcança esse país inteiro. São 42 longa metragens plurais. Agora quando se fala em TV, só agora a partir de 2022, o olhar do protagonismo começou a ser ampliado dessa beleza importada que a gente vê por aí.O quanto você mergulhou nesse mundo do estudo dos passarinhos para fazer esse filme?Eu queria abordar com esse filme o absurdo que é o Brasil ser esse grande fornecedor de animais silvestres e pássaros para o tráfico internacional. É um fetiche até hoje. A gente convive com gaiolas e não se admira. Não acha um absurdo que eles se autodenominem passarinheiros. Eles são gaioleiros. Os pássaros não nasceram para ficarem na gaiola e nem sozinhos. São animais que vivem em dupla a vida inteira. Dentro de uma gaiola eles não estão cantando, eles estão chorando, sofrendo. Imaginem um bicho que nasceu para voar sobre uma floresta, ficar preso. Como nós vamos monitorar a Amazônia se não for com a ajuda do terceiro setor? Como vamos dar conta das demandas do Brasil se a gente ficar passivo às demandas governamentais? Como vamos transformar se não somos ativistas capazes de fazer demandas? Hoje o que eu vejo é que a Amazônia precisa ser ouvida através dos amazônidas: artistas, cientistas, todas as excelências desse mundo.
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Série comemorativa “2 de Ouro” traz dois arranjadores fundamentais para a evolução da MPB Em comemoração aos 40 anos de história, o Trip FM preparou a série especial 2 de Ouro, reunindo entrevistados que marcaram a trajetória do programa. São sempre duas conversas distintas, gravadas em épocas diferentes, mas conectadas por coincidências marcantes. No segundo episódio, você ouve o papo com o exímio compositor, letrista, violonista, cantor, arranjador e produtor Lenine ao lado do violoncelista Jaques Morelembaum, uma potência da MPB com mais de 800 discos gravados. Eles falam de fama, dos segredos para uma boa parceria, de infância, das dificuldades no início da carreira e muito mais. O episódio já está disponível no Spotify e no play aqui em cima.
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Figura central no rap brasileiro, DJ Zegon conta sua história do início no Largo São Bento ao encontro com o Dr. Dre Moldado pelo skate e pelos encontros no Largo São Bento no início dos anos 1980 – berço do hip-hop paulistano, que também revelou nomes como Os Gêmeos e o rapper Thaíde – o DJ Zegon é uma figura importante na história do rap brasileiro. Ele já produziu grandes artistas, como os Racionais e Sabotage, e integrou o Planet Hemp quando a banda estourou. "No começo dos anos 1980, o skate era influenciado pelo new wave, pós-punk, hardcore, mas depois, tanto no Brasil quanto nos EUA, começou a se aproximar do hip-hop. Os primeiros discos foram produzidos pelo pessoal do Ira!, Dudu Marote, pelos new waves e pós-punks. Houve uma identificação entre o punk e o hip-hop, um verdadeiro encontro de tribos. O skate se tornou muito eclético, com skatistas ouvindo de Madonna a Run-D.M.C., e eu sempre me identifiquei com isso", relembra Zegon.Toda essa trajetória é abordada na conversa com Paulo Lima, no Trip FM desta semana. Zé também fala sobre seu trabalho com o Tropkillaz, dupla formada com o beatmaker e compositor Laudz, e compartilha histórias de estúdio com grandes nomes como Dr. Dre, Kanye West, Tom Waits, entre outros. O episódio está disponível no Spotify e aqui no site da Trip.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/09/66edbbb548b55/dj-zegon-planet-hemp-produtor-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Igaronovich / Divulgação; LEGEND=Dj Zegon; ALT_TEXT=Dj Zegon]Trip. A gente pode começar pelo estopim da sua carreira. Como foi viajar com o Planet Hemp na época em que a banda era mais perseguida?Quando o Planet hemp cresceu começaram as perseguições, até com polícia esperando em aeroporto. A gente viajava com advogado e habeas corpos pronto. Isso até o grande incidente de Brasília que deixou a gente uma semana preso. A intenção do Planet sempre foi essa, a mensagem era muito importante. Ainda a gente precisa falar sobre isso, melhorou um pouco, mas está longe do ideal. A quantidade de pessoa que é presa injustamente é grande. Os jovens não sabem que não podia falar de qualquer coisa naquela época. Não era comercial, era uma missão na qual a gente acreditava.E como foi a sua entrada no rap e principalmente o trabalho com o Sabotage? O Mano Brown foi um padrinho da sua carreira, não foi?Eu aprendi muito com o Mano Brown, de simplicidade, do menos é mais, de como suingar. E ele me testou antes de me aceitar, primeiro me pedindo para produzir o 509-E, depois o Sabotage, pra só então trabalhar com o Racionais. O Sabotage era muito para frente do seu tempo, reunia influencias de chorinho a rock. Ele não era nada duro, não tinha nada de gangster, que era a tendência da época. Ele era metáfora, abstração. Muito para frente em levada e musicalidade. Gravou com o Sepultura, era fã da Sandy e não ligava.O que exatamente faz um produtor?Existem várias escolas de produção, do psicólogo que tira o melhor do músico ao beatmaker e ao maestro que cria uma determinada sonoridade de uma banda. A minha escola é a de criar os beats.Quando caiu a ficha do tamanho dos trabalhos que você estava fazendo?No Planet Hemp caiu a minha ficha de que estava realizando um sonho de moleque, de fazer um som como Cypress Hill ou Beastie Boys, como meus ídolos, e do lado de amigos. Quando eu vi que estava vivendo disso, eu percebi que tinha cumprido uma etapa. Depois, gravando com Talking Heads, George Clinton, Tom Waits e ter meu nome junto com esses caras... Eu nunca pude sonhar com isso. Mas gosto de ficar com esse friozinho na barriga , com 55 anos, ainda achando que vou fazer coisas que eu nunca fiz.Que conselhos você acha que pode dar aos jovens que estão começando nesse caminho?O que eu tento falar para os beatmakers mais novos é pra não seguir tendência: você vai chegar atrás de todo mundo que já foi. Encontre a sua assinatura. Faz parte aprender olhando os outros, mas encontrar o seu caminho é a dica de ouro.
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Série comemorativa estreia com a primeira mulher negra latino-americana a escalar o Everest e um dos maiores ícones das artes marciais Em comemoração aos 40 anos de história, o Trip FM preparou uma série de episódios especiais, reunindo duplas de entrevistados que marcaram a trajetória do programa. São sempre duas conversas distintas, gravadas em épocas diferentes, mas conectadas por coincidências marcantes.No episódio de estreia, você ouve o papo com Aretha Duarte, a primeira mulher negra latino-americana a escalar o Everest, ao lado de Rickson Gracie, um dos maiores ícones das artes marciais. Eles compartilham algo em comum: transformaram suas vidas e a maneira como se relacionam com o mundo por meio do esporte.No programa, eles falam sobre temas como família, treinamento, superação do medo e a importância da natureza. O episódio fica disponível no Spotify e no play aqui em cima.
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Conheça Antonio Saboia, o ator que vive Marcelo Rubens Paiva no aclamado filme “Ainda Estou Aqui”, com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres Depois de ser aplaudido por dez minutos no Festival de Cinema de Veneza, na Itália, o filme "Ainda Estou Aqui" se tornou um dos assuntos mais comentados da semana – especialmente por marcar o retorno do diretor Walter Salles após mais de uma década sem novos lançamentos. As atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro dão vida à Eunice Paiva, que enfrentou a violência do período da ditadura militar no Brasil depois do desaparecimento do marido, o deputado Rubens Paiva, preso em 1971 e assassinado pelos torturadores no Rio de Janeiro. O livro homônimo, escrito por seu filho, Marcelo Rubens Paiva, inspirou o longa que ainda não tem data de estreia no Brasil.O ator Antonio Saboia, que interpreta o escritor, falou ao Trip FM sobre a importância de essa história ser contada nos cinemas. "É essencial relembrarmos esses momentos dramáticos da nossa história para educar e evitar que se repitam. No entanto, o filme não é panfletário; o foco está na trajetória daquela família. Trata-se de memória", afirma. Destaque no cinema nacional, com papéis em produções aclamadas como "Bacurau" e "Deserto Particular", ele bateu um papo com Paulo Lima sobre o novo trabalho, além de relembrar sua infância e falar de Fernanda Montenegro. O programa está disponível no Spotify e aqui no site da Trip.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/09/66db4b2b8fbdb/antonio-saboia-walter-salles-cinema-veneza-filme-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Fabio Audi (@fabioaudi) / Divulgação; LEGEND=Antonio Saboia; ALT_TEXT=Antonio Saboia]Trip. A procura cada vez maior por atores com grande número de seguidores nas redes sociais é algo que o preocupa?Antonio Saboia. É um equívoco achar que um vídeo de uma dancinha ou algo engraçado vai atrair pessoas para o cinema. As pessoas dão like porque consomem isso nas redes sociais, mas o que elas querem é uma boa história. A gente tem tantos exemplos na nossa filmografia de longas com elenco desconhecido, como "Cidade de Deus" ou o próprio "Bacurau". As pessoas querem ser mexidas."Ainda Estou Aqui" fez um barulho imenso no Festival de Veneza. Já dá pra dizer que é a sua obra mais importante? Como foi contracenar com a Fernanda Montenegro? Eu tenho muito orgulho desse filme, de poder ter chamado a Fernanda Montenegro de mãe e de interpretar o Marcelo Rubens Paiva. A Fernanda é extremamente interessada, humilde. Depois de gravar com ela eu nunca mais vou reclamar de nada. Fizemos diárias de horas com moletom, no calor, e ela nunca reclamou. Esteve ao meu lado até em cenas em que não precisava estar. Por muito, muito menos eu já vi atores reclamarem. E o Walter Salles é muito preciso, sutil, pode estar tudo desmoronando e ele mantém a calma. A gente se sente muito seguro.Como você enxerga a importância desse filme, principalmente pensando que estamos há poucos dias do 7 de setembro, uma data que tem se tornando uma desculpa para alguns irem às ruas pedindo a volta da ditadura militar? É fundamental a gente contar sobre esses momentos dramáticos da nossa história. Tentar educar para que isso não aconteça mais. Por outro lado, "Ainda Estou Aqui" não é panfletário. Em primeiro plano está a história daquela família, que não pediu nada para ninguém, e é impactada por aquela violência. É um filme também sobre memória.
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De Eder Jofre a Elza Soares, de Lama Michel a Renato Russo, programa faz sobrevoo por algumas de suas entrevistas mais marcantes
No dia 28 de agosto de 1984 entrava no ar o Trip FM. O programa, que completa 40 anos sob o comando de Paulo Lima, chamava-se Surf Report quando estreou na rádio 97 FM em Santo André. Transmitido há 20 anos pela Rádio Eldorado, já recebeu convidados como Elza Soares, Contardo Calligaris, Renato Russo, Sócrates, Lama Michel e outras centenas de pessoas que têm algo a dizer e se destacam nas mais diversas áreas da sociedade brasileira para conversas que misturam a profundidade do jornalismo com a leveza e o humor de uma conversa entre amigos íntimos.
Para celebrar essa trajetória, o relembramos algumas de suas entrevistas mais marcantes, selecionadas de um acervo de quase 2 mil arquivos. São personalidades do esporte, da música, da saúde e das artes em papos que refletem o desejo do programa de explorar a natureza humana em suas diversas expressões.
Confira abaixo uma amostra do programa ou ouça o episódio completo no Spotify e aqui no play aqui em cima.
“A felicidade é uma piada fundamentalmente desinteressante. O que é interessante é ter uma vida animada, com momentos de grande alegria e outros de tristeza. Isso é viver”Contardo Calligaris, psicanalista, em entrevista ao Trip FM em 2009
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“Eu cheguei no Ary Barroso e a plateia riu muito. Eu muito magrela, com a roupa da minha mãe, parecia um ET. Quando estava cantando, o Ary me abraçou e disse: 'Senhoras e senhores, neste momento nasce mais uma estrela'”Elza Soares, cantora, em entrevista ao Trip FM em 2007
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“Dinheiro é um sofrimento. No budismo nós chamamos de 'os três sofrimentos do dinheiro': o sofrimento de acumular, de manter e de aumentar”Lama Michel, mestre budista, em entrevista ao Trip FM em 2007
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“Eu não acredito que alguém pode dizer que quem faz esporte é alienado. Com a sociedade do jeito que está, com o corre-corre dos centros urbanos e o consumismo desenfreado, se dedicar a uma coisa saudável, principalmente a um esporte de ação, não pode ser considerado algo alienante”Renato Russo, músico, em entrevista ao Trip FM em 1988
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“Medo todo mundo tem, controlar é que é difícil"Rickson Gracie, lutador, em entrevista ao Trip FM em 2008
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“O jogador de futebol é tratado como criança. A concentração é um exemplo bem claro disso. Por que você isola um profissional pra ele produzir naquilo que lhe diz respeito? Se fosse assim, um cirurgião cardíaco, que opera todo dia, não poderia ter família”Sócrates, jogador de futebol, em entrevista ao Trip FM em 2008
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"Falar sobre grana sendo artista é um tabu. A gente precisa dizer que é rico. Tem muita gente linda na música que não ganha dinheiro"Rodrigo Amarante, músico, em entrevista ao Trip FM em 2021
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"A morte não me assusta. Viva e deixe para pensar na morte depois de enterrado, quando for sobrar tempo. Esse paredão da finitude só serve pra gente olhar para trás e perceber a vida que levou. E aí que história eu vou contar?"Ana Michelle Soares, fundadora da Casa Paliativa, em entrevista ao Trip FM em 2022
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"A aposentadoria foi o momento infinitamente mais difícil da minha carreira. Dá um vazio muito grande enterrar algo em que você foi o melhor do mundo, que trouxe muita alegria. Eu vejo as competições e ainda quero ganhar, mas já não quero pagar o preço para chegar até lá"Cesar Cielo, nadador, em entrevista ao Trip FM em 2023
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"A fama foi algo muito maluco. Ainda bem que o sertão me ensinou muita coisa. A seca me ensinou a separar a realidade da mentira. Não tivesse tomado cuidado, eu poderia ter achado que era aquilo tudo que se escrevia nas revistas"Jackson Antunes, ator, em entrevista ao Trip FM em 2024
[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66d22fdbbf1bb/trip-fm-40-anos-aniversario-mh6.jpg; CREDITS=; LEGEND=; ALT_TEXT=]
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William Ury conta sobre os bastidores de algumas das negociações mais famosas do mundo O fantasma da guerra nuclear, que assombrou uma geração, sempre esteve presente na mente de William Ury. A ansiedade gerada por eventos como a crise dos mísseis em Cuba foi uma das razões que o levaram a se dedicar à resolução de conflitos. Antropólogo de formação, ele passou os últimos 40 anos envolvido em negociações tão complexas quanto o conflito entre a Rússia e a Chechênia, a guerra civil que desintegrou a ex-Iugoslávia, o apartheid na África do Sul, a crise entre o presidente venezuelano Hugo Chávez e a oposição, entre muitos outros. Fora do cenário político internacional, Ury também ganhou prestígio ao mediar conflitos no mundo dos negócios, como no notório caso de Abilio Diniz contra Jean-Charles Naouri.Autor do livro “Sim, é possível: Sobreviver e prosperar em uma era de conflitos”, que acaba de ser lançado no Brasil, Ury é o convidado do Trip FM. No papo com Paulo Lima, ele compartilha suas experiências em negociações famosas e fala sobre tecnologia, Ucrânia, Faixa de Gaza, Kim Jong-un e os conflitos atuais. “Nesse momento estamos em crise, são muitas mudanças tecnológicas, geopolíticas. É muito para a mente e o coração humano. Estamos olhando para uma tempestade, com ondas gigantes. Como vamos surfar? As ondas não vão diminuir, mas podemos aprender a nadar”, diz. O programa está disponível no play aqui em cima e no Spotify.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66c8eca21eb58/william-ury-escritor-antropoligo-mediador-conflitos-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação; LEGEND=William Ury; ALT_TEXT=William Ury]Trip. Você, que prega muito o ouvir, como vê essa valorização crescente do falar, se expor e gritar nas redes sociais?William Ury. Nesse momento estamos em crise, são muitas mudanças para a humanidade, tecnológicas e geopolíticas. É muito para a mente e o coração humano. Estamos olhando para uma tempestade com ondas gigantes. Como vamos surfar? As ondas não vão diminuir, mas podemos aprender a nadar. É preciso respirar um pouco para saber para onde queremos ir. O mundo está muito reativo. As mídias sociais querem que a gente fale mais, entre mais em conflito. É o momento para nós, na família, no emprego, pararmos um pouco para enxergar novas possibilidades. Como neste momento, por exemplo, aqui nos EUA. Dois meses atrás, não havia esse sentimento de esperança, de possibilidade, que agora temos com a vice-presidente Kamala Harris. Há dois meses estávamos todos deprimidos. Isso mostra que em pouco tempo pode mudar tudo.Quanto mais próximo ao interlocutor, mais difícil negociar? A negociação, quanto mais interna, mais difícil. Negociar com o banco é muito mais fácil do que com a família, são muitas emoções envolvidas. Essas discussões são mais difíceis subjetivamente, mas ao mesmo tempo o ouvir se torna ainda mais eficaz. Ouvir com empatia, sem julgar, com paciência, com calma interior. Escutar é um gesto recebido como forma de respeito. Escutar é a concessão mais barata que existe.Existem pessoas que são inegociáveis? Ninguém é inegociável. Todos somos humanos, todos temos nossos interesses e você pode influir esses interesses. Mas em algum momento é muito difícil negociar, então é preciso ter um plano B. Como proteger seus interesses frente ao Putin, por exemplo? O que ele entende é o poder, somente. Há possibilidades ali para proteger a Ucrânia através da negociação, assim como há na Faixa de Gaza. Mas é preciso trabalhar, usar todos os recursos para a negociação que nós trazemos para a guerra.
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A jornalista, empresária e consultora fala de sua trajetória, que inspira as pessoas que não querem discursos prontos e rasos “Não dá pra romantizar o empreendedorismo. Para algumas pessoas, ter a própria empresa é o maior sonho, é a vida dela que está em jogo, então tem que dar certo. Existe outro lado, não tão falado, que é a precarização do empreendedorismo. As pessoas não estão ganhando nem um salário mínimo”, afirma Monique Evelle. Baiana da periferia de Salvador, ela é tantas coisas que fica difícil defini-la. Jornalista, empresária, mentora, investidora, consultora e dona de uma cadeira no programa Shark Tank Brasil, ela tinha 16 anos quando transformou uma chapa estudantil, a Desabafo Social, em uma organização em favor dos direitos humanos. De lá pra cá, ganhou prêmios, fundou empresas e foi eleita prodígio por um punhado de instituições – título que a acompanha desde a infância, às vezes mais como um peso do que um reconhecimento. “Temos que parar com isso. Porque o ‘prodígio’, as pessoas um pouco mais fora da curva, também têm a possibilidade e o desejo de pausar, descansar, e não performar conforme a expectativa do mundo”, diz. “Sempre foi muito exaustivo ter que ser a melhor da turma. Porque era a única coisa que restou pra mim, como uma menina negra e periférica num colégio de um bairro de elite. Foi a minha saída pra ser vista de algum jeito, no lugar de potência. Hoje entendo que isso foi um efeito do racismo”.No Trip FM, Monique Evelle bateu um papo com Paulo Lima sobre o seu papel como Shark, autoestima, infância, empreendedorismo, dinheiro e muito mais. Você pode ouvir o programa completo no play aqui em cima ou no Spotify.
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Presidente da Dream Factory fala sobre os Jogos de Paris, os esforços para atrair o público jovem e a recessão no mercado de entretenimento Depois de um período de frenesi pós-pandemia, em que a ânsia por entretenimento ao vivo gerou um crescimento gigantesco na procura por shows e eventos esportivos, a esperada recessão chegou – o que se comprova com os recentes cancelamentos, como das megaturnês de Ivete Sangalo e Ludmilla. Para Duda Magalhães, presidente da Dream Factory, plataforma especializada em fazer eventos ao vivo, esse movimento é apenas um freio de arrumação em um mercado que se torna cada vez mais importante, já que vivemos presos às telas dos celulares e redes sociais. “O cardápio para o consumidor de shows e eventos vai ser cada vez mais diversificado, e isso é positivo”, diz.Diante da Olimpíada de Paris, que se tornou um acontecimento midiático e movimentou milhões de pessoas para assistir às competições, o empresário, que começou a produzir de eventos esportivos aos 18 anos, enxerga de maneira otimista a transformação desse tipo de evento. "Eu vejo uma evolução dos Jogos Olímpicos, a capacidade de se rejuvenescer, se abrindo para modalidades que falam com o público jovem e novos formatos de transmissão. Foram incorporadas mudanças importantes que estão sendo mostradas em Paris", afirmou.No Trip FM, Duda conversou com Paulo Lima sobre Olimpíada, CazéTV, tecnologia, gestão e muito mais. Você pode ouvir a conversa na íntegra no play aqui em cima ou no Spotify.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66b6792af088e/duda-magalhaes-dream-factory-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=Duda Magalhães; ALT_TEXT=Duda Magalhães]Ano passado parecia que o novo normal do mercado de shows seriam as megaturnês, estádios lotados, mas em 2024 aconteceram diversos cancelamentos. Já dá para falar em crise?Duda Magalhães. Com o pós-pandemia, estimulado pelo mecanismo de isenção de impostos, o setor de eventos aproveitou a vontade do consumidor de recuperar o tempo perdido. Isso gerou uma inflação artística, houve uma hipervalorização dos cachês e dos insumos de produção muito acima da inflação. E gerou esse freio de arrumação em 2024, que era esperado. Dois festivais e três shows no mesmo fim de semana, na mesma cidade, não tem como ficar de pé. No âmbito global, há uma dificuldade no agendamento de grandes nomes, porque artistas como Bruno Mars e Taylor Swift acabam preferindo e ganhando muito mais dinheiro com as suas turnês solos.Você acha que o futuro é dos eventos grandiosos e cheios de tecnologias ou a tendência é que a gente volte para algo mais intimista? O cardápio para o consumidor de shows e eventos vai ser cada vez mais diversificado e isso é positivo. As pessoas são livres. Vai ter 70 mil pessoas para ver o mesmo show que o Bruno Mars fez na semana anterior em outra cidade e tá tudo bem. Assim como vai ter 300 pessoas para ver a peça do Pedro Cardoso e da Fernanda Montenegro. Muitas das vezes são as mesmas pessoas, são necessidades diferentes em momentos diferentes. O ser humano não é monotemático, ele é multi-fantasia. E a tecnologia veio possibilitar novos formatos. Não fosse a tecnologia, não teria o streaming da Olimpíada.
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Bob Burnquist, dez vezes campeão mundial, fala sobre os prós e contras da modalidade na maior vitrine do esporte no planeta Um dos maiores nomes do skate brasileiro, Bob Burnquist pavimentou com muito suor a estrada que transformou o país numa das principais potências do esporte. Aos 47 anos – e 48 ossos quebrados na conta –, está sempre em busca de alguma novidade. “Eu preciso viver inspirado, interessado e aprendendo”, diz. Ele aprendeu a pilotar helicóptero, avião, paraquedas, se envolveu no mercado de NFTs e, agora, está prestes a ganhar uma série documental sobre sua vida. “Bob Burnquist: A Lenda do Skate” estreia na Max no dia 13 de agosto.Convidado do Trip FM, ele bateu um papo com Paulo Lima sobre a evolução do skate dentro e fora do cenário olímpico, Rayssa Leal e muito mais. Essa conversa fica disponível no Spotify e aqui no site da Trip.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66ad41fd79896/bob-burnquist-skatista-olimpiadas-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação / Bob Burnquist: A Lenda do Skate; LEGEND=Bob Burnquist; ALT_TEXT=Bob Burnquist]Trip. Com 48 ossos quebrados, você é um especialista em dor. Mas tem um tipo dor que deve ser ainda mais difícil para o atleta, que é a da aposentadoria. Como você, que já saiu de alguns circuitos competitivos, encara como essa fase?Não existe finalizar a carreira de um skatista. Existe você se desligar de certas situações, como a pressão das competições. Eu não necessariamente parei, diminuí o ritmo um pouco, mas estou me sentindo feliz, bem, em cima do skate, não tenho uma pressão performática, eu vou lá e ando, faço projetos, vídeos, filmes. O skate tem esse lado cultural, de criação de conteúdo que não é igual você ser um atleta de natação, que você tem que estar sempre super condicionado para estar ativo. Chega um momento que o ganhar já não é o que te move, porque você já está ganhando. Você tem que achar outras maneiras e outras formas de se inspirar. E isso se cria, se constrói, é como uma 'obra de arte skatável' e uma visão que eu tenho, uma expressão do skate, como skatista, para o mundo. As pessoas meio que me inspiram. Isso não acaba nunca. E o skate é interessante por causa disso.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66ad42130f396/bob-burnquist-skatista-olimpiadas-trip-fm-mh2.jpg; CREDITS=Divulgação / Bob Burnquist: A Lenda do Skate; LEGEND=Bob Burnquist; ALT_TEXT=Bob Burnquist]A exposição que o skate ganha com as Olimpíadas acaba mostrando apenas um lado de um esporte que é multifacetado. Isso te incomoda? O importante é a gente aumentar o número de skatistas, não por uma questão de mercado, mas porque skatistas são pessoas mais resilientes, criativas, e que têm essa pegada contracultural, que é importante para a evolução de qualquer coisa, é importante você ter uma rebeldia para inovar. A criação requer coragem. Eu era um dos que era contra o skate nas Olimpíadas, e hoje, pra mim ainda parece que a gente não se encaixa lá. Mas eu entendia que era parte do trabalho, e entrei como presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSK) para construir a seleção brasileira. Mesmo com o desgaste que isso me causou, foi importante. Na primeira Olimpíada do skate, eu sentia que cada medalha que nossos atletas ganhavam entrando no meu pescoço. Toda vez que acontecia, eu ficava tão feliz como se eu tivesse recebendo as medalhas.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66ad421d1fca4/bob-burnquist-skatista-olimpiadas-trip-fm-mh3.jpg; CREDITS=Divulgação / Bob Burnquist: A Lenda do Skate; LEGEND=Bob Burnquist; ALT_TEXT=Bob Burnquist]Hoje a distribuição da grana entre os esportes é mais justa? A Olimpíada levou o skate pra outro patamar, é legal de ver tudo o foi feito a partir disso, como mais pistas sendo construídas, os skatistas ganhando a bolsa atleta e mais suporte. Mas nem todo mundo precisa ser olímpico. O skate tem um tamanho que independe de Olimpíada, é uma família enorme que tem várias personalidades. Tudo bem se ele deixar de ser modalidade olímpica, se for para manter a nossa integridade. O inspirador é a Rayssa Leal fazendo o que ela faz, os skatistas indo lá, interagindo, trazendo de volta o espírito olímpico, que o espírito do skate é mais olímpico que o olímpico. Porque no skate não tem essas brigas todas, é uma cultura completamente nova. Isso é um orgulho pra gente.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/08/66ad42279ff82/bob-burnquist-skatista-olimpiadas-trip-fm-mh4.jpg; CREDITS=Divulgação / Bob Burnquist: A Lenda do Skate; LEGEND=Bob Burnquist; ALT_TEXT=Bob Burnquist]
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O pediatra Daniel Becker explica os três vilões de uma infância saudável: o vício em telas, a alimentação ultraprocessada e o confinamento Quem tem filhos sabe que as redes sociais podem se transformar em um emaranhado de conselhos parentais que, na maioria das vezes, têm muito pouco a ver com ciência e servem mais para confundir do que ajudar. Por isso, ao trazer informação de qualidade e explicações bem didáticas, o pediatra Daniel Becker se tornou um dos médicos mais influentes do Instagram, somando mais de um milhão de seguidores. Mas as redes sociais não são poupadas de suas críticas, especialmente quando falamos da relação das crianças com as telas. "Não há argumento que fique de pé sobre a permanência do celular na escola. Na sala ele destrói o aprendizado, cria situações de bullying e assédio ao professor. O celular transforma o recreio, que é o último reduto do brincar – porque em casa tem celular, não tem mais pracinha ou encontro com os amigos –, em um funeral", afirma. "É preciso regulamentar as redes sociais. Cerca de 70% das crianças de nove e dez anos têm conta pessoal no TikTok, quando os termos de uso só admitem pessoas acima de 13 anos. Precisamos de uma legislação que coíba a falta de verificação da idade do usuário e também crimes como pedofilia, golpes, racismo e intolerâncias".Em entrevista ao Trip FM, o médico compartilhou sua trajetória, marcada por uma forte atuação humanitária, e explicou os três grandes vilões de uma infância mais saudável: o vício precoce em telas, a alimentação ultraprocessada e a diminuição do espaço da criança no mundo, que vai das praças e parques ao confinamento do quarto. Você pode conferir o papo completo no play acima ou no Spotify. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/66a40984481dc/dbecker-interna.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=; ALT_TEXT=]Trip. Como a gente resolve o problema do vício das crianças nas telas quando nós mesmos estamos doentes?Daniel Becker. A primeira coisa que precisamos entender é que não são as famílias, individualmente, que vão resolver o problema do vício nas telas. Nós estamos enfrentando as empresas mais poderosas do mundo, que investem bilhões em neurociência e programação para nos viciar. Isso resultou na maior crise de negacionismo científico, vacinal, climático da história – e que ameaça a nossa sobrevivência como espécie. Aí você olha para as crianças. Além de os pais estarem viciados, a vida moderna não favorece o contato e o vínculo fundamental no desenvolvimento da criança. Isso porque se chega tarde em casa, é preciso fazer tarefa e cozinhar. A criança se sente cada vez mais desvalorizada. Claro que a solução pra gente descansar um pouco é deixar os pequenos na tela e então eles passam cinco, seis horas, no TikTok, sendo formados por esse bando de imbecis, idiotas, golpistas, pedófilos e influenciadores de toda a sorte de malefícios, exposta a riscos incalculáveis, sem proteção ou supervisão. A infância está cada vez mais encolhida. O território que antes era o bairro, virou um quartinho e aquela plaquinha de metal e plástico, o celular. Com isso você encolhe as experiências fundamentais da infância que são aquelas que vão definir a sua vida adulta, com saúde física e mental. A vivência infantil é a base da saúde mental do ser humano.E o celular nas escolas? Não há argumento que fique de pé sobre a permanência do celular na escola. É fundamental deixar o celular quando entra e pegar quando sai. Na sala ele destrói o aprendizado, cria situações de bullying e assédio ao professor. O celular transforma o recreio – que é o último reduto do brincar, porque em casa tem celular, não tem mais pracinha, não encontra mais os amigos – em um funeral.Quais são algumas das soluções? A gente precisa regulamentar as redes sociais, o que muita gente não quer para continuar a construir essas muralhas de fake news. É preciso passar uma legislação que regulamente os crimes cometidos, entre eles o crime de não verificar idade de usuário. Cerca de 70% das crianças de nove e dez anos têm conta pessoal no TikTok, quando os termos de uso só admitem pessoas acima de 13 anos. Precisamos de uma lei que coíba pedofilia, golpes, racismo e intolerâncias.
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Um dos talentos revelados pelas séries que estão mudando o audiovisual brasileiro, o pernambucano fala de representatividade, arte e grana "Eu sinto que comecei a ter mais trabalhos depois dos 35 anos. No audiovisual a juventude precisa ser bela e gostosa. Eu não estou no padrão, mas, para os homens, ao contrário das mulheres, a maturidade dá permissão de não ser belo e ter um papel como marido da Vanessa Giácomo. Isso é uma estupidez, essas não são as caras da vida", diz o ator Pedro Wagner. Aos 41 anos, o pernambucano que cresceu entre Recife e Garanhuns é um dos talentos revelados pelas séries que estão mudando o audiovisual brasileiro. Conhecido na cena artística de Pernambuco desde que ajudou a fundar o grupo teatral Magiluth, em 2009, Pedro fez sua primeira aparição na TV no papel do psicopata Osvaldo, na série “Justiça”. Ele também participou de “Cangaço Novo”, "Irmandade" e, agora, brilha na pele do líder comunitário Amarildo em “O Jogo Que Mudou a História”, do Globoplay.Para dar vida a personagens que representam uma masculinidade com a qual nunca se identificou, ele mergulhou numa investigação que passa até pelas vivências dentro de sua própria família. “A relação com meu pai, meus tios, meus primos e os homens da família melhorou depois desses papéis porque tive que compreender essa masculinidade que neguei na vida por ter sido uma criança viada, um adolescente viado, um adulto viado. Isso não significa aceitar algumas práticas, mas estar num lugar menos acusatório, e ajustar dialeticamente possíveis acordos pra que a gente mantenha essas relações afetivas”, diz.Você pode ouvir essa conversa no play nesta página e no Spotify ou ler um trecho a seguir.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/669ab8ba04872/pedro-interna2.jpg; CREDITS=divulgação; LEGEND=; ALT_TEXT=]Trip. Como você tem recebido esses papéis de sofrimento, violência e pobreza? Se preocupa em ser relegado a um tipo de personagem apenas?Pedro Wagner. É muito diferente a maneira como as pessoas do audiovisual me enxergam. Eu sempre começo um personagem deste lugar, do “eu não sei fazer isso, não sei que sentimento é esse”. A masculinidade tem problemas muito específicos, é uma porcelaninha que pode quebrar fácil. Eu sou uma pessoa que gosta de Bette Davis e Madonna. Para mim, os grandes trabalhos vem da produção feminina. Mas ao tentar fazer esses personagens que chegam até mim, eu percebo que tenho que emprestar das vivências dos meus avós e meu pai. E toda a relação com os homens da minha família melhorou, o audiovisual me fez compreendê-los melhor. Outra coisa que eu acho interessante é que homens gays atores estão criando, no cinema, um imaginário da masculinidade. E, por outro lado, existe um certo fetiche dos atores heterossexuais cisgênero de que fazer um personagem gay é uma meta para mostrar versatilidade. Eles estão contando as minhas histórias e eu sinto uma certa vingança em contar as histórias deles.Você sofreu muito com a sua família quando era criança? Afeto é dado, não tem regra, não se racionaliza, igual respiração. Minha família, sim, se reorganizou, com o tempo, para ter uma troca de afeto comigo. É bonito, mas é deles. É mais sobre eles melhorarem como seres humanos, mas não é um presente, é apenas a premissa básica entre nós. Não vou te dar uma medalha para que eu possa ter um espaço na sua vida. Quando eu era criança, com o boom da Aids, minha geração cresceu com o estigma da morte. É a minha prática da vivência do amor que me levaria a morte. Mas isso não é mais uma sina. O movimento hoje ainda é lento, mas é ascendente.E como anda a sua vida financeira hoje em dia? Mesmo tendo chegado ao coprotagonismo, eu ganho muito mal. O trabalho artístico hoje vale 40% do total, o resto é número de seguidores e influência. Eu sinto que quando alguém vem me procurar, é porque precisam de um ator que podem pagar mal. Mas eu ainda trabalho num lugar de sobrevivência. Minha mãe precisa de mim. O streaming trouxe trabalho, mas nós também perdemos muitos direitos. Parece que uma plataforma quer superar a outra, uma quer pagar pior que a outra. Eu sinto que depois que eu fiz 35 anos comecei a trabalhar mais. Porque no audiovisual a juventude precisa ser bela e gostosa. Eu não estou no padrão, mas na maturidade – isso para os homens, não para as mulheres – a gente pode não ser belo e ainda assim eu consigo fazer o marido da Vanessa Giácomo. A maturidade me dá essa permissão. A juventude não. A mulher, independente da idade, precisa estar no padrão. Isso é uma estupidez, essas não são as caras da vida.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/669ab8ba048c8/pedro-interna.jpg; CREDITS=divulgação; LEGEND=; ALT_TEXT=]
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De Xuxa a Tom Jobim, o multiartista Gringo Cardia já trabalhou com grandes personalidades, mas seu olhar sensível enxerga muito além De Xuxa a Tom Jobim, de Cássia Eller a Pedro Cardoso, o multiartista Gringo Cardia já trabalhou com uma vasta gama de personalidades, seja como designer, cenógrafo ou diretor. Responsável por alguns dos videoclipes e capas de discos mais impactantes da história nacional, como o icônico "O Segundo Sol", de Cássia Eller, Gringo encontrou um espaço em sua concorrida agenda para bater um papo com o Trip FM. “Nunca acreditei na arte para poucos. O papel do artista é falar com todos, e não com uma turma de intelectuais. Tudo já está criado na natureza, nas pessoas, nas ruas, mas para ser um artista visual você precisa saber ver. Meu papel é de observador, de tradutor, quase como um psicólogo visual”, reflete.Na conversa com Paulo Lima, ele falou sobre a potência da cultura popular, o conceito de fracasso, a importância da educação e as dificuldades de administrar a Spetaculo, uma escola de arte e tecnologia para jovens da periferia do Rio de Janeiro.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/66916d7c0f852/interna.jpg; CREDITS=; LEGEND=Ellie Kurttz; ALT_TEXT=]Trip FM. Gringo é um apelido, baseado na sua aparência física, mas tem também aí um atributo, não tem? A questão do olhar de fora, daquele que enxerga o que os outros não estão vendo?Gringo Cardia. Mais do que ser artista, o meu trabalho é de observador. Tudo já está criado na natureza, no mundo, nas pessoas, nas ruas, no pipoqueiro, mas para ser um artista visual você precisa saber ver. Meu papel é ser um tradutor. Já trabalhei de Tom Jobim a Xuxa porque sempre tive muita curiosidade. Eu acho que a gente precisa valorizar as pessoas e não ter preconceito. O Brasil é do cult ao popular. Tudo que tem público é porque tem sinergia com a alma do povo. Meu trabalho é quase de um psicólogo visual, de mostrar as pessoas para o mundo.Qual o segredo de juntar o elegante como o popular? O principal é ter respeito pelas pessoas. Ver um trabalho de arte popular e olhar como se estivesse no Moma e não porque é moda, mas é preciso entender que aquilo tem valor. Nunca acreditei na arte para poucos. O papel do artista é falar com as pessoas, e não com a turma de intelectuais. Esse pessoal é importante para fazer a nossa cabeça na escola, mas é uma bolha. Conhecimento é não perder o olhar de criança, quando você fica com o olhar de adulto já está velho.A arte tem o papel de educar? A geração que nasceu depois da explosão da computação, nasceu com a noção de que a imagem fala tudo, mas a imagem não fala tudo. A imagem atrai os olhos para depois você pensar. O olhar bate, vai no coração, e depois chega na cabeça. Tudo o que eu aprendi para sensibilizar as pessoas através da arte, eu descobri, tem que servir ao conhecimento e de uma maneira que seja construtiva para o mundo. Tudo é para educar.
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Aos 27 anos, a velejadora se tornou a primeira mulher a completar o período de invernagem no Ártico Era julho quando Tamara Klink partiu da costa da França a bordo do Sardinha 2, um veleiro de dez metros de comprimento, rumo à Groenlândia. Há quase um ano, ela navegou por vinte dias entre icebergs para chegar a um dos territórios mais remotos do mundo, onde o sol se esconde durante todo o inverno e o mar se transforma em gelo. Foi ali que aportou sua embarcação para se transformar na primeira mulher a completar o período de invernagem sozinha no Ártico – em outras palavras, passar o inverno isolada no barco preso no gelo. Durante oito meses, a velejadora viveu entre raposas, corvos e ptarmigans em temperaturas que variam entre -20ºC e -40ºC, em contato com a civilização por e-mails curtos e textos publicados por uma amiga em seu Instagram. Aos 27 anos, Tamara descobriu como enxergar através dos pequenos ruídos no meio do silêncio, sentiu falta de um dicionário – e também de algumas palavras para definir os sons, cheiros e gostos que experimentou –, aprendeu a tocar músicas no violão e inventou outras tantas quando as cifras acabaram e viu as pessoas que deixou em terra firme se transformarem em rascunhos abstratos na sua cabeça, tão verdadeiros quanto os personagens dos livros que lia. Filha da fotógrafa e empresária Marina Klink e de Amyr Klink, um dos maiores velejadores do mundo, Tamara escreveu mais um capítulo de uma história que é só sua – e, ao contrário do que muitos esperam, sem contar com conselhos ou orientações do pai. Em sua primeira entrevista depois da invernagem, Tamara Klink bateu um papo exclusivo com Paulo Lima no Trip FM. Ela conta o que aprendeu sobre si e sobre a vida, fala de sexualidade, música, sonhos e os maiores desafios nesse projeto – cair na água congelante ao pisar no gelo fino foi só um deles. Você pode ouvir essa conversa no play nesta página, no Spotify ou ler a seguir.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/66870771e74c4/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink]Trip. Imagina que você encontrou uma menininha de 10 anos que quer saber o que você andou fazendo nos últimos meses. Eu queria que você contasse para ela que projeto é esse.Tamara Klink. O meu projeto era ficar no Ártico de um verão até o seguinte, então passei aqui também outono, inverno e primavera. Agora é verão de novo. E viver. Eu queria viver e descobrir o que acontece quando o mar congela, quando os animais vão embora, quando os sons, os cheiros e a luz desaparecem. Durante o inverno, o sol se põe. Eu fiquei sem vê-lo durante 3 meses, e toda a paisagem muda quando some a luz. Durante o verão é o contrário: o sol não se põe mais, está o tempo todo no céu, o tempo todo é dia. Eu queria fazer essa travessia do tempo. Dessa vez não era mais eu que ia atravessar o oceano para ir de um lugar ao outro, eu ia de um lugar ao outro atravessando o tempo.Você está falando com a gente da Groenlândia. Me conta um pouquinho como é esse país? A Groenlândia é uma ilha enorme, a maior do mundo. Dois terços são cobertos por uma calota polar e nas bordas existem vilarejos. As primeiras pessoas chegaram aqui há milhares de anos, mas a ocupação humana mais recente aconteceu ao redor de mil anos atrás com pessoas que vieram andando no mar congelado durante o inverno. O mar congela durante seis meses por ano, mais ao norte por quase 11 meses e às vezes o ano inteiro. Então essas mudanças extremas de temperatura faz parte da vida das pessoas que moram aqui desde sempre. Mas para mim isso era uma novidade. Aprendi muito com os groenlandeses que encontrei no caminho. Eles me ensinaram, por exemplo, como andar e navegar no meio de icebergs e o perigo de se aproximar de um. Os icebergs quebram, às vezes derivam em cima do barco, podem capotar em cima de nós. Várias vezes durante a noite, mesmo ancorada, eu tinha que acordar aqueles que se aproximavam do barco. O que você encontrou no caminho até o Ártico? Eu estava acostumada a navegar com uma precisão cartográfica maior. Aqui eu precisei entrar em uma baía sem saber se ia ter fundo suficiente para ancorar, naveguei em lugares com muita neblina, ser enxergar nada. Usava só o radar, mas eu sabia que ele não ia mostrar os icebergs pequenos, que também são perigosos. Ao longo dessas navegações eu fui trabalhando a musculatura da frustração, aprendendo a lidar com os imprevistos constantes, com o risco. No começo foi extremamente exaustivo, mas depois encontrei o ritmo. Eu ria. Eu batia numa pedra, eu ria. Eu falava: é isso, se o barco não afundou, então nós seguimos, teremos aprendido a posição de mais uma das muitas pedras que a gente ainda vai encontrar. Acho que fui criando uma espécie de olhar irônico ou cômico para a desgraça. E aí eu comecei a ver que a parte mais tranquila da viagem seria o inverno. Eu não via a hora de poder simplesmente ancorar e estar em paz por oito meses. A ideia de ficar sozinho é aterrorizante para muita gente. Como foi pra você pensar que ficaria muitos meses só com os seus pensamentos? Você sempre gostou disso? Não sei se eu sempre gostei, mas eu via a invernagem como uma chance de descobrir a verdade com V maiúsculo. A verdade sobre o que acontece quando chega o inverno e o mundo se transforma, quando um espaço que antes era navegável se torna terra firme, quando os animais vão embora, quando o som vai embora e a gente fica no silêncio. A verdade sobre quem eu sou quando não tem ninguém ao redor, quem eu sou quando ninguém vai dizer o meu nome, quando ninguém vai me salvar, quando ninguém vai me dar carinho, quem eu sou sem meu sobrenome. Eu nunca tinha vivido sem nome próprio, sem idade, sem gênero. Essa busca e essa pesquisa foi o que me motivou a vir e o que alimentou os dias. Eu vi a solidão muito mais como uma chance de descoberta sobre mim como humana, como indivíduo, como ser vivo, do que como uma punição ou uma dificuldade. Como foi enfrentar a solidão? Muitas pessoas vivem a solidão sem desejar, mas eu pude escolher. É muito diferente se expor à solidão por escolha e sabendo que tenho um lugar para voltar, onde vou encontrar pessoas. Eu tive que vir até aqui, tão longe, e ficar presa numa placa de gelo para poder estar só. E para os groenlandeses que conheci, a solidão não é algo bom. Eles tentaram me desencorajar. Falavam: "Fica num vilarejo, leva mais alguém"; "Vai faltar abraço, vai faltar homem"; "Vai com um homem que você não vai dar conta"; "Você vai ser fraca demais, não tem experiência, vai morrer congelada".Você disse querer estar em contato com seus ângulos mais profundos e a sua existência de uma forma diferente. Isso aconteceu? Você se encontrou nesse período da invernagem sozinha? Sim, mas eu não precisava estar aqui para ter encontrado essa iluminação, essa paz. Poderia ter encontrado em qualquer lugar do mundo, porque as coisas que me permitiram sentir mais em paz e mais feliz por estar viva foram coisas que existem em todos os lugares: o céu, a caminhada, o acesso a esse infinito que está na nossa cabeça, esse espaço amplo que ocupa todos os nossos vazios. Um dia, depois de seis ou sete meses ancorada, abri a cadeira de acampamento em cima do gelo e fiquei olhando o céu. Fechei o olho e fiquei só sentindo o calor, a radiação solar na cara, e pensei que a palavra que melhor definia aquele momento era paz. E tudo o que eu tinha vivido de ruim e de difícil, ao longo da preparação, mas também ao longo de toda a vida, e tudo que eu tinha vivido de bom, de feliz, de brilhante, tinha servido para aquela hora. E entendi que era para isso que servia estar viva. Não para fazer coisas grandiosas, mudar a história da humanidade, escrever livros, ganhar prêmio, aparecer em revista, podcast. A vida servia simplesmente para sentir. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/668708127e59c/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh2.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink]Eu queria que você falasse mais sobre o silêncio. Como é estar num lugar de silêncio absoluto? O que ele te ensinou? Quando o mar congelou, os sons que definiam a paisagem sonora pararam de ocupar o ar. O barulho das ondas, a água batendo nas pedras, gaivotas passando, às vezes uma foca, uma baleia… Só sobraram os sons do meu próprio corpo. E tinha um barulho que me incomodava muito, um ruído que eu acho que vem do sangue, da efervescência, das bolhas, não sei. Por mais que eu tivesse todo o silêncio, aquilo parecia estar sempre gritando no meu ouvido. Meus passos pareciam muito barulhentos, e eu ficava aliviada de ouvir um corvo passando. Durante muito tempo, eu conhecia os meus vizinhos muito mais pelo som: a raposa, o corvo, o ptarmigan. Eu comecei a gostar desse silêncio, que era um silêncio vasto, de quilômetros. E isso mudou a minha relação também com o medo, porque os sons que antes me assustavam – do vento catabático, dos icebergs na borda – eram os que agora faziam me sentir mais confortável. Eu ouvia um barulho e falava: "Ah, deve ser isso ou aquilo, o vento deve estar a 15 nós". Eu via muito mais a paisagem por esses pequenos e sutis ruídos do que pelos signos visuais. E como é difícil colocar o som em palavras. A gente tem um vocabulário muito rico para definir o que vê, mas muito pobre para os sons, os cheiros, os gostos. A descoberta foi da insuficiência das palavras.Existe a crença de que o ser humano é um animal gregário, que precisa estar em grupo. Queria saber como foi a carência de gente. Houve uma curva de gradação do aumento ou diminuição dessa dependência? Você acha que se uma pessoa, por alguma razão, viver isolada, isso vai deixando de ser importante com o tempo? No começo da viagem eu sofri um pouco por estar ainda associada a um modo de vida das pessoas que estavam em terra, em que a vida era garantida – ou aparentemente garantida. Mas no ambiente em que eu estava bastava que o barco pegasse fogo e era certo que eu ia morrer. Ou bastava ter uma apendicite, quebrar uma perna, bater a cabeça, cair na água… Como a minha vida nunca estava garantida, muitas coisas começaram a parecer fúteis. Ao longo do tempo, as pessoas começaram a se tornar cada vez mais abstratas na minha cabeça. Eu não lembrava como era meu namorado, minha mãe, meu pai, minhas irmãs. Eu lembrava muito mais de frases fora de contexto e algo como um rascunho do rosto da pessoa, e menos de como ela era de fato. Era como se as pessoas começassem a virar conceito, um resumo distante. Um dia, meu namorado mandou um e-mail e eu falei: "Desculpa, não quero mais ser sua namorada, porque eu não vejo mais nada, eu nem lembro como você é". Eu sentia que eu não queria mais esses vínculos, essa dependência, nem gerar expectativa. Porque tudo o que importava pra mim fazia parte do presente, fazia parte do lugar onde eu estava: os animais, a neve, as condições meteorológicas, as mudanças dos elementos, a minha própria existência. O resto era tão verdadeiro quanto os personagens dos livros que eu lia. A ficção e a realidade eram muito próximas. Receber um e-mail de alguém da minha família era como ler sobre Diadorim, personagem do "Grande Sertão: Veredas" [livro de Guimarães Rosa]. Enquanto eu lia o livro, aqueles eram os personagens com quem eu convivia nos meus pensamentos, tanto quanto os personagens dos e-mails.Você falou sobre essa mixagem entre a ficção e a realidade, como isso foi acontecendo na sua cabeça, inclusive com relação ao seu relacionamento afetivo. Achei surpreendente essa coisa de você não saber mais quem era a pessoa que estava do outro lado. Eu queria, sem ser invasivo, tratar um pouco também da sexualidade. Como era esse aspecto? O que você pode me contar da sexualidade humana quando o indivíduo é colocado nessa condição que é completamente diversa à que a gente está acostumado? Não posso falar por toda a espécie, mas posso falar por mim. Eu não tinha nenhum desejo sexual, eu não tinha vontade de estar com meu namorado. Eu diria até o contrário. Eu comecei a identificar, e não só do ponto de vista sexual, todas as vezes em que eu abri mão do meu prazer pelo prazer do outro. Quantas vezes eu usei roupas que apertam para ser mais bonita, mais agradável, mais desejada, mais querida ou mais respeitada. Quantas vezes eu fiz coisas desconfortáveis, ou que eu não queria fazer, para agradar outra pessoa. Porque ser mulher passa também por ser aceita, por ser reconhecida por algo que não são simplesmente as nossas capacidades de pensar, nossas ideias, nossas habilidades, mas também por qual é a cara que a gente tem, qual é o corpo que a gente tem, e quantas vezes a gente só consegue acessar certos lugares porque a gente aparenta ser alguma coisa – sendo ou não aquilo. E de repente eu não precisava mais parecer. Eu podia apenas ser. Eu não precisava mais gastar tanta energia quanto numa cidade para aparentar alguma coisa ou para agradar. Quando a gente para de pensar em qual é a cara que a gente tem, se a gente está apresentável, se a gente está vestida do jeito certo ou não, de repente sobra muito tempo para o nosso próprio prazer. [IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/6687082044b6c/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh3.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink]Eu vivia em função do meu corpo como uma ferramenta, tanto para me levar nos lugares quanto para me dar prazer de muitas formas. E o prazer era algo muito mais plural do que o sexo. Era o prazer de ir onde eu queria com as minhas próprias pernas, de escorregar uma montanha e dar risada quando eu chegava no final. Era o prazer de ver um bicho, de comer uma comida. Eram vários outros prazeres que percebi que renunciava na vida na cidade porque a gente não reconhecia isso como prazer válido. Quantas vezes já não abrimos mão de comer uma comida por causa do número de calorias, porque não é saudável, por medo de o dente ficar sujo ou porque a gente aprendeu que não era a coisa certa? Quantas vezes a gente, principalmente as mulheres, usou roupas que restringem a nossa mobilidade? Por que as roupas de esporte femininas são tão apertadas? Por que os nossos bolsos, às vezes, são falsos? Por que a gente usa sapatos que incomodam tanto? De repente eu só me vestia para ter mais mobilidade, para me dar prazer, para estar confortável. E eu percebi que, quando eu ligava a câmera fotográfica, que era para mim o acesso ao mundo exterior, eu pensava: "Meu Deus, minhas sobrancelhas estão juntas de novo, quando eu voltar vão ficar falando que eu sou monocelha"; "Meu cabelo está com caspa, o que eu faço agora?"; "Ih, tem uma meleca no meu nariz". Óbvio que tem, o ar é muito seco, o nariz fica escorrendo o tempo inteiro. E eu só lembrava dessas coisas quando via a câmera fotográfica e começava a imaginar o que a outra pessoa ia pensar sobre mim quando visse aquela foto. Porque a gente aceita ver o explorador polar com duas estalactites escorrendo do nariz, mas eu nunca vi foto de uma mulher com meleca no nariz, com pelo na cara, cabelo oleoso. Ela tem que estar sempre arrumada, não importa onde está. Então a câmera fotográfica era o inimigo, esse olhar externo da sociedade. Mas também era bom poder lembrar como era e deixar de lado, desligar a câmera e ser humana, que é mais era libertador. E acho que a liberdade vem de ir superando esses limites, alguns limites que nos foram impostos pelas pessoas, outros que foram impostos por nós mesmos. Como foi o fim do isolamento, sair desse lugar em que você se encontrou? Eu até me incomodei com os primeiros encontros com pescadores groenlandeses, porque era sinal que o inverno tinha acabado mesmo. Até que eu comecei a desejar voltar para a sociedade, encontrar outras pessoas e rever as que eu tinha deixado. Porque eu entendi que a minha viagem fazia sentido, era bonita, feliz, também porque ela era provisória. A solidão era provisória. E eu não era o único ser vivo que começava a encontrar pessoas. Quando a primavera chegou e o mar começou a derreter, apareceram os primeiros animais e eu notei que eles passaram a estar em grupo. As raposas, antes solitárias, cantavam para se encontrar. Os ptarmigans estavam juntos, as baleias sempre em par, os patos eram milhares reunidos. E eu continuava só. E aí eu comecei a entender que a solidão não era a resposta e a minha vida só fazia sentido dentro do contexto da minha espécie. Eu podia morrer, tinha até perdido esse medo, mas a minha vida só faria sentido depois de ter passado por tudo isso se ela tornasse melhor a vida dos outros indivíduos da minha espécie. Porque é assim, a gente acaba e vira carne e osso e pronto. E o que faz a vida ser além de carne, osso e pele? São as ideias, é a imaginação, são esses sentidos. E a vida serve para isso, não para os objetos que nos rodeiam.Estamos falando em vínculos e a gente lembra de você desde pequenininha, esperando a chegada das expedições de seu pai, Amyr Klink. E é muito interessante o quanto você está construindo a sua própria história. Você falou em entrevista ao Provoca sobre a dificuldade que seu pai teve de entender esse projeto. Como é que você lê isso hoje? Me deu muita liberdade, hoje eu vejo, meu pai dizer desde sempre que não me ajudaria. Ao mesmo tempo foi aquele empurrão do ninho: "Você quer navegar? Então vá. Mas saiba que eu não vou te dar barco, conselho, dinheiro, não vou te dar nada. Simplesmente crie o seu caminho". Então eu fui buscar tudo isso em outros lugares. Eu aprendi outra língua, porque eu vi que tinham muitos livros de navegação escritos em francês, e fui pra França, onde conheci outras pessoas, naveguei em outros barcos e tive a oportunidade de não ser mais a filha do meu pai. No Brasil eu tinha muito medo de errar, porque se eu fosse uma velejadora ruim, putz, eu tava carregando um nome que não era só o meu. Era muito intimidador, porque eu sentia que as pessoas já esperavam que eu soubesse muito mais do que eu sabia. Como a gente aprende, como é que a gente começa quando todos esperam que a gente já saiba? Na França eu errava, fiz um monte de escolha ruim, e isso foi me dando a experiência necessária. Eu acho que é o meu jeito de fazer as coisas, que talvez seja ingênuo, mas eu me coloco em situações em que não sei como eu vou encontrar as respostas, mas eu me coloco. Me jogo na água e falo: "Bom, agora que eu tô aqui, eu sei que eu vou ter que aprender a nadar, não tenho outra opção". Isso foi algo que eu fui fazendo, principalmente no começo. E o que me permitiu comprar a Sardinha 1, um barco velho que custava o preço de uma bicicleta lá na Noruega. E que eu sabia que não teria nem como pagar o combustível ao longo da viagem. Aí eu negociava venda de vídeos na internet, no meu canal do YouTube, fui lendo um livro sobre negociação para aprender a negociar, aí conseguia comprar combustível para poder ir até uma baía específica e comprar a polia que eu precisava para levantar a vela mestra. No começo era tudo muito no limite. E acho que se meu pai soubesse tudo o que eu ia viver por causa e graças àqueles "não", ele se questionaria se foi a melhor coisa. Porque eu realmente me expus a muito mais do que provavelmente ele esperava – e do que eu esperava também. Mas foi o que me trouxe aqui e estou feliz de ter chegado.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/07/6687082ebbf98/tamara-klink-velejadora-groenlandia-congelada-artico-trip-fm-mh4.jpg; CREDITS=Divulgação / Arquivo pessoal; LEGEND=Tamara Klink; ALT_TEXT=Tamara Klink]Depois desse processo, será que você vai ter mais ou menos paciência para lidar com as pessoas? A sabedoria que você adquiriu vai te dar mais complacência e tolerância ou as pessoas vão te irritar? Essa é uma boa pergunta. Eu acho que a gente precisa refazer esse encontro daqui a uns seis meses para saber a resposta. Eu fiquei dois, três dias na cidade e a minha impressão foi que tinha objetos demais, coisas demais. Eu via as pessoas correndo trabalhando, seguindo horários. Mas por que as pessoas trabalham tanto? Ah, para ganhar dinheiro, todo mundo precisa ganhar dinheiro para viver. Mas será que tanto assim? O que a gente vai fazer com tantas horas de trabalho, com tantos dinheiros, com tantos objetos? Pra que servem tantos objetos que a gente vai carregando? Tem um livro que chama "Walden, ou A vida nos bosques", do Henry David Thoreau, em que ele fala sobre os objetos serem essa armadilha que a gente vai carregando. De repente a raposa fica com o rabo preso na armadilha e precisa escolher se ela fica ali porque o rabo está lá, e morre, ou se corta e deixa o rabo pra trás para viver sem ele. Os objetos são esse lastro, né? As gerações vão passando e a gente vai acumulando e acumulando móveis antigos. E a vida vai ficando mais pesada, a gente vai perdendo a mobilidade ao longo dos anos. Em todos os cantos do planeta a gente tem a mania de acumular, de precisar. Quantas necessidades não são vícios, mais do que necessidades? Não sei se eu vou ter mais paciência ou menos. Não sei se eu vou ser iludida com os confortos, com o banho quente, com a possibilidade ter objetos que aqui eu não tive, ou se vai ser o contrário. Vou ter que voltar pra descobrir.De todos os objetos que você levou com você, quais você guardaria porque são fundamentais pra você? Se eu tivesse que escolher um objeto pra manter nesse momento, seriam as botas, pra poder continuar a caminhar. E se eu tivesse que deixar pra trás tudo e só pudesse levar uma coisa, seria o diário.Como foi o papel da música no seu isolamento? A música e o sonho são mais que um teletransporte, porque quando a gente sonha e quando a gente ouve música vivemos coisas que vão além do lugar onde a gente está, do que a gente sente ou consegue alcançar com a imaginação. Eu ouvia bastante música e aprendi algumas músicas no violão. Quando acabaram as cifras, eu tive que ir inventando e criando as minhas. As músicas que eu ouvia criavam outros espaços dentro dessa vasta banquisa de mar congelado, desse lugar hostil. Elas criavam companhias e personagens. Eu via as coisas de forma diferente, sob outro olhar, me sentia às vezes compreendida, ou provocada, ou querida, ou confortável. A música é essa ferramenta quase mágica que a gente ainda tem. A gente pode tirar todos os objetos e ferramentas do nosso lugar, mas um brasileiro longe do Brasil vai se sentir em casa ouvindo Jorge Ben Jor, Maria Bethância, Alcione. Eu como escritora eu morro de ciúmes, inveja e admiração pelos compositores porque pra ser lida, eu preciso que o leitor queira muito. Mas os compositores eles conseguem ser recitados sem o leitor nem querer, e isso é algo que eu acho muito poderoso da música.Queria te perguntar sobre aquilo que a gente convencionou chamar de espiritualidade, essa ideia de transcendência, de alguma coisa que não é objetiva, que não é palpável. Nesse período você viveu algo nesse sentido? A ideia de transcendência, de forças maiores, ficou mais ou menos presente na sua cabeça? O momento em que eu mais tive essa sensação de transcendência ou de existir algo maior foi quando eu quase morri. Quando eu caí na água, no mar congelado, e sobrevivi por sorte, ou por determinação, ou por vontade de sobreviver. Acho que muito por sorte mesmo, porque às vezes não basta querer muito, ter conhecimento ou fazer de tudo. Às vezes o que te salva, e no caso foi o que me salvou, é ter um pedaço de gelo podre ali por perto, onde eu consegui fazer buracos e me puxar pra cima. Se o gelo não fosse podre o suficiente, se fosse mais firme, eu não teria conseguido fazer buracos e me arrastar. E durante alguns dias eu não sabia se estava viva ou morta. Eu fiquei me perguntando: será que meu corpo ficou lá na água e só minha alma veio aqui sozinha? Será que se eu dormir acaba a magia e eu não acordo mais? Será que eu preciso ficar acordada pra conseguir continuar viva? Será que se eu morrer aqui as raposas ou os corvos vão comer meu corpo? Quanto tempo será que eu vou durar? Alguém vai sentir saudade de mim? Pra que vai ter servido tudo isso? Terá valido a pena ou não? Bom, em algum momento eu percebi que estava viva mesmo, concretamente, porque uma pessoa morta não conseguiria escrever e-mail pra avisar que estava bem. Então vieram todos esses questionamentos sobre o que é a vida, se a vida precisa do corpo ou não. E uma das maiores experiências de transcendência que tive foi a do sonho. Os sonhos me permitiam viver coisas. Às vezes eu sonhava com animais que eu via no dia seguinte, às vezes eu sonhava com coisas que aconteceram. O sonho, ao mesmo tempo que me preparava, me fazia digerir o que eu tinha vivido, e às vezes enxergar de outras maneiras coisas que eu já tinha vivido ou que eu ainda ia viver, permitindo me antecipar também. E o sonho não era apenas uma ferramenta, às vezes o sonho também era fim. Muitas vezes eu fiz coisas pra sonhar com elas. Muitas vezes eu fiz perguntas pro sonho sobre decisões que eu queria tomar e não tava conseguindo. Quando a gente está sonhando, a gente vive, sente, foge, reage, corre e vive. E quando a gente acorda, está com o nosso corpo e volta pro lugar de onde a gente dormiu. Essa é a transcendência e a criação de novos espaços dentro do próprio corpo, do próprio espírito, que acontece todas as noites. Para encerrar em grande estilo, faço uma homenagem para o mestre Antônio Abujamra, que muitas vezes terminava seu programa com uma pergunta instigante: Tamara Klink, o que é a vida? A vida é uma palavra curta. Acho que é uma palavra que nos leva pra muitos lugares, mas ela é uma palavra. E é isso, a primeira letra do alfabeto é a última letra da palavra vida. E acho que essa é a graça, é chegar no final e encontrar com o começo da nossa descoberta do que a vida é.
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Com 50 anos de profissão, João Farkas lança livro sobre as belezas e perigos que ameaçam o país “Descobri que a única maneira de mobilizar as pessoas é através da beleza. Meu livro segue essa linha: lindo, lindo, lindo e, de repente, ‘pá!’, surgem os problemas. Ter um olhar benevolente é uma forma de sobrevivência, pois ninguém aguenta tanta desgraça, e também uma estratégia, porque só cuidamos do que amamos e só amamos o que conhecemos”, diz João Farkas.Um grande astro da fotografia, há 50 anos ele observa o Brasil de maneira única. Com uma série de livros publicados, João lança agora o volume: “Enquanto há Tempo”, onde a beleza e os riscos que nosso país enfrenta convivem lado a lado. Com uma visão amorosa, mas ao mesmo tempo real, sobre nossa sociedade e tudo o que nos cerca, o fotógrafo bateu um papo com o Trip FM sobre a Amazônia, o garimpo, a história da rede Fotótica criada por seu avô, o desenvolvimento destrutivo do litoral de São Paulo e muito mais. A entrevista você pode conferir no play aqui no site e no Spotify.[IMAGE=https://revistatrip.uol.com.br/upload/2024/06/6675ed292264f/joao-farkas-fotografo-tripfm-mh.jpg; CREDITS=Arquivo pessoal; LEGEND=João Farkas; ALT_TEXT=João Farkas]Trip. São muitos anos presenciando as desgraças desse país. Como você ainda tem uma produção tão esperançosa?João Farkas. Eu bebi na fonte dos meus pais de acreditar muito no Brasil e no ser humano. A gente é bom em fazer coisa errada nesse país, e talvez tenhamos uma das piores elites do mundo, mas também temos um povo maravilhoso, com uma capacidade grande de aceitar o outro, com um DNA de tolerância. A gente sabe transformar desgraça em risada. Foi assim que eu aprendi a ver o mundo. Se você souber olhar, tudo é sagrado, o mundo é maravilhoso. Eu prefiro olhar por esse lado, de outra forma fica insuportável. Eu não vou ficar mergulhado na depressão. O que dá pra fazer? Apostar na beleza, no amor, na amizade.Isso aparece no seu livro, mas ele também carrega um alerta. Eu descobri que a única maneira de mobilizar as pessoas era pela beleza. Qual é a estratégia? A gente só cuida do que a gente ama e a gente só ama o que a gente conhece. Meu livro é assim. Lindo, lindo, lindo, e de repente "pá", existem problemas. Ter um olhar benevolente é uma forma de sobrevivência interna, pois ninguém aguenta tanta desgraça. Por outro lado, é estratégico, para despertar o cuidado pela beleza. Uma das grandes vantagens da fotografia é que, por ela não ser racional, falada, é mais aberta a interpretações. Você não conduz o pensamento, você mostra. Mas é claro que dá para esconder, mentir, é possível.O que você descobriu com os garimpos na Amazônia? O ouro desperta uma loucura nas pessoas, é uma doença. As pessoas vão morrer de malária e de tiro por essa riqueza súbita, que é um ouro de tolo, na verdade, porque o garimpeiro geralmente gasta imediatamente aquele valor.
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